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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Velhice e sexualidade.

Erotismo politicamente correto

19/09/2013
Por Márcio Ferrari- Revista Pesquisa FAPESP
Com o aumento da longevidade, a velhice está se tornando a fase mais longa da vida. Contada geralmente a partir dos 60 anos de idade – mas não raro a partir dos 50 –, às vezes corresponde a quase metade da existência de uma pessoa.
Atualmente já se pode falar não de uma única velhice, mas de várias, dependendo da faixa etária e das condições sociais e individuais do idoso. Por ser o prolongamento da expectativa de vida um fenômeno recente e veloz, as políticas públicas, as concepções médicas e as de senso comum sobre a velhice se sucedem, se entrelaçam e muitas vezes se confundem.
As variações e contradições dos discursos gerontológicos das últimas décadas são tema da pesquisa Velhice, violência e sexualidade, da professora Guita Grin Debert, do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que conta com apoio da FAPESP.
O trabalho se insere num conjunto de estudos que a pesquisadora vem desenvolvendo ao longo de sua carreira acadêmica, cujas conclusões mais recentes se encontram no campo da sexualidade – ou, mais precisamente, no processo de “erotização da velhice” verificado nas últimas décadas.
O estudo foi feito com base na análise de documentos e pronunciamentos oficiais, de textos publicados na imprensa e da literatura de autoajuda, além de dados etnográficos obtidos em espaços de socialização de pessoas idosas.
O que se percebe, segundo Guita, é uma mudança marcante da década de 1970 para cá. Evoluiu-se de uma concepção em que a velhice é caracterizada como uma fase de “decadência física e perda de papéis sociais”, na qual a vivência sexual praticamente se extingue, para outra em que uma sexualidade ativa e gratificante é pré-requisito para uma vida saudável e feliz.
É quando surge o conceito de “terceira idade” e passa a predominar a ideia de que o sexo “é quase uma obrigação” para os idosos. Trata-se do que a pesquisadora chama, tomando de empréstimo uma expressão criada pela socióloga Maria Filomena Gregori, de “erotismo politicamente correto”. Não por acaso, na discussão sobre a terceira idade, os médicos vão perdendo terreno para os psicólogos.
“A velhice se tornou a idade do lazer e da realização pessoal”, diz Guita. Essa concepção, que não se restringe ao Brasil, acaba influindo diretamente nas definições do que é ser velho e nos parâmetros da “gestão do envelhecimento”. “Não deixa de ser também um novo mercado, porque, entre todos os grupos sociais, o dos velhos é o que tem mais disponibilidade de consumo”, diz a antropóloga.
A derrubada do mito da velhice assexuada se deu em campos múltiplos. Estudos de várias áreas comprovaram que a sexualidade não se esgota com o passar dos anos. É indiscutível o declínio da frequência das relações sexuais, mas emerge, por outro lado, a percepção de que a qualidade dessas relações pode aumentar.
Os encontros podem tornar-se mais livres e afetuosos. Percebe-se que os papéis tradicionais de gênero, nesse sentido, tendem a se inverter: as mulheres passam a ser menos recatadas e os homens, mais afetuosos. Nas sensações também haveria mudanças: o prazer estaria espalhado pelo corpo, ocorrendo um processo de “desgenitalização”.
A sexóloga e psiquiatra Carmita Abdo, do Projeto de Sexualidade (Pro-Sex) do Hospital das Clínicas da Universidade São Paulo, coordenou em 2008 o Mosaico Brasil, um amplo estudo sobre a sexualidade dos brasileiros.
Os resultados mostraram que a atividade sexual é mantida na velhice, mas não sem percalços. “A chegada da menopausa na mulher, com o fim da produção de hormônios, causa um grande impacto físico e psicológico, em especial num país que cultua tanto a beleza e a jovialidade”, diz Carmita. Entre os homens, a fertilidade se mantém, mas, a partir da quinta década de vida, aumenta a incidência de problemas de saúde que comprometem a potência sexual.
Leia a reportagem completa em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/09/12/erotismo-politicamente-correto/

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Entrevista para o Jornal MercoPress.

Record low unemployment fueling protestor confidence in Brazil


By Bob Moser - The question of how long Brazil's protest movement may last is one that has stumped social and political analysts of late, with the movement's rapid growth since early June taking nearly all by surprise. But a key economic factor may now be fueling Brazilian protesters with an endurance to go the distance, and offers a link to a sustaining element of the social and anti-war movements of the 1960s in the United States.

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Brazil's unemployment rate for May was 5.8 percent, the lowest recorded for that month since at least 2002, and the fifth consecutive month in which the rate has barely budged, following an all-time low of 4.6 percent in December, according to the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). Brazilians with a college degree currently enjoy a 2.9 percent unemployment rate.

“As of now the job market is extraordinary, unlike ever before,” said Carlos Alberto de Melo, professor and politicial scientist at Insper São Paulo. “This brings a certain comfort to the youth that must be recognized.”

Record low unemployment has played a role over the past two years in Brazil's disappointing economic growth rates and stubbornly high inflation. But it's also serving as a buoy of confidence for the average Brazilian.

“I believe right now that if I work hard in school, I will find any job that I want. The job market is no longer a worry for us on a daily basis,” said Vinicius Maximo, 20, a media major at Mackenzie Presbyterian University in São Paulo. “When you have an issue like this resolved, you can focus on other issues, those that are really bad, which in our case are various things that we're focusing on in these protests.”

Unemployment in the U.S. ranged from 3.5 percent to 6 percent per year throughout the 1960s and early 1970s, according to the Bureau of Labor Statistics, making it one of the strongest decades for U.S. employment over the past century. It was a key factor in sustaining the decade's anti-war movement, says Todd Gitlin, professor of journalism and sociology at Columbia University, and noted author on the history of social movements in the U.S.

“When people feel more confident about their economic footing, they are liberated to look for ways of investing what I like to call their 'moral capital,'” Gitlin said. “This was certainly the case in the U.S. in the 1960s. Many millions of young people had a job market cushion that enabled them to take some chances.”

More young adult Brazilians have been employed annually over each of the past five straight years. Brazil has been an ideal labor climate for college students and recent graduates, in stark contrast to high unemployment rates for that age group in much of Europe and the United States.

“That relative freedom from debt and from the need to work while in college was far more common in the U.S. in the 1960s than it has been in recent decades,” Gitlin added.

Driven in large part by global demand for Brazil's commodities, the past decade of growth has lifted some 40 million Brazilians out of poverty into the middle class. As they advance financially, Brazilians are viewing other aspects of their life in a new light, seeing greater flaws in issues like security, transportation and cost of living.

“I compare this Brazilian youth movement now to a pot of boiling water,” said Insper's Melo. “They've slowly been brought to a boil, and now even if the fire is turned off, they'll remain hot. If that fire ignites again, they'll boil faster than ever before.”

Of Brazil's active protesters, 77 percent are college graduates, about one quarter are currently studying and more than half are age 25 or younger, according to a June survey by the Datafolha Institute.

“Brazil's youth is discovering its voice against an old system, a system that's not helping the people with the funds it has, and wants to construct a system that is new. They're against the practice of corruption and money being lost to politicians, among other issues. We're seeing this in Europe and Arab nations now as well,” said Rosana Schwartz, professor of history and sociology at Mackenzie Presbyterian University.

“I think it's the same as what occurred in the 1960s and 1970s, a new world was being implemented then with new questions. All the movements in the U.S. were varied at first as well, involving (African-Americans), women, sex and war.”


By Bob Moser, Sao Pablo - Brazil

Video by Marcelo Min

Entrevista Jornal da TV Cultura.

Quais as diferenças entre plebiscito, referendo e iniciativa popular

http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/entenda-o-que-sao-constituinte-plebiscito-e-reforma-politica.html

O Brasil exige e quer discutir, o enfrentamento da corrupção, problemas da vida cotidiana como saúde, segurança, mobilidade urbana, moradia e a Reforma Política. Para tanto necessitamos entender:

O que é Plebiscito?

A reforma política é um conjunto de propostas debatidas no Congresso Nacional para tentar melhorar o atual sistema eleitoral e político brasileiro. Entre os temas estão sistema eleitoral, financiamento eleitoral e partidário, coligações, alteração das datas de posses, entre outros. O caráter polêmico da maioria das propostas - sucessivos adiamentos das votações, atrasando mudanças com relação ao tema. Assim entenda: O plebiscito é a convocação dos eleitores do país a aprovar ou rejeitar questões relevantes antes da existência de lei ou do ato administrativo. Assim, a população diz se quer ou não que ele seja aprovado.

Quem propõe? A competência para propor é do Congresso quando se tratar de questões de relevância nacional.

Como funciona. É convocado por decreto legislativo da Câmara ou do Senado, com proposta que deve ser assinada por no mínimo um terço dos deputados (171) ou de um terço dos senadores (27). A medida deve ser aprovada em cada uma das Casas por maioria absoluta (metade mais um de todos os parlamentares). Na Câmara, são necessários 257 votos favoráveis. No Senado, 41. O referendo pode ser convocado em trinta dias a partir da lei ou medida administrativa.

Depois da votação, o resultado é homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral. O processo ocorre como numa campanha eleitoral, com tempo de rádio e TV e possibilidade de distribuição de panfletos.

Resultado

Se a população for a favor, o resultado da consulta é levado para o Congresso. Há divergência, no entanto, sobre se o resultado do plebiscito teria que ser seguido pelo Congresso, porque não há previsão expressa na Constituição sobre isso. Para alguns juristas, o resultado do plebiscito poderia ser interpretado apenas como uma consulta, e não como uma "ordem" da população aos deputados.

Depois de feitas as escolhas, a implementação das decisões deve ocorrer por meio dos instrumentos legislativos adequados. Se mudar a Constituição, deve ser aprovada uma PEC (proposta de emenda à Constituição, que passa por dois turnos de votação em cada Casa, exigindo aprovação de 3/5 dos deputados (308) e 60% dos senadores (49)). Se for o Código Eleitoral, por exemplo, lei complementar, e assim por diante. Caberia aos parlamentares aprovar detalhes da reforma política que não tenham sido incluídos no plebiscito.

E o referndo?

O referendo também é uma consulta popular, mas ele é convocado depois que o ato já foi aprovado, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta.

Quem propõe?
Igual ao plebiscito.

Como funciona?
Igual ao plebiscito.

Resultado
Nesse caso, os deputados já teriam aprovado o texto da reforma política, condicionando sua aprovação definitiva à consulta popular. A população diria se concorda ou não. Se discordar, ela não entra em vigor. O Congresso poderia começar um novo processo, alterando os temas rejeitados, e novamente submeter ao crivo popular por referendo.
Não há impedimento para incluir quantas perguntas forem necessárias em um questionário a ser respondido pela população, tanto no plebiscito como no referendo.

Quais casos recentes devem ser lembrados?

O que correu em dezembro de 2011 e abordou a divisão do Pará. O projeto de decreto legislativo havia sido aprovado em maio daquele ano. O processo eleitoral levou sete meses para ser organizado. A população do estado rejeitou a criação dos estados do Carajás e de Tapajós. Naquela ocasião, a consulta custou R$ 19 milhões. No país, também aconteceram três referendos. Em 23 de outubro de 2005, o povo brasileiro foi consultado sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munições e rejeitou alterar a lei, mantendo o comércio. Em 1993, foi realizado plebiscito para escolher entre monarquia ou república e parlamentarismo ou presidencialismo. A consulta consolidou a forma e o sistema de governo atuais.

E Iniciativa Popular?
É a outra forma de participação direta da população prevista na Constituição Federal. Por meio dela, é apresentado um projeto de lei sobre determinado assunto, assinado por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo menos por cinco Estados, e não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles. É o que aconteceu na Lei da Ficha Limpa, que tramitou e foi aprovada por pedido da população.

O que é?

A Assembléia Nacional Constituinte reúne pessoas escolhidas para redigir ou reformar uma Constituição, lei maior de um país e que rege todas as outras leis vigentes. A atual Carta do Brasil é de 1988 e não contou com pessoas eleitas exclusivamente para a tarefa, tendo sido elaborada por deputados e senadores eleitos em 1986, que puderam cumprir o restante dos mandatos depois de terem terminado de escrever a Carta Magna. Segundo juristas não há previsão legal de uma constituinte específica para um único tema, como propôs Dilma, a Constituição brasileira não prevê a convocação de constituinte. Entretanto existe a Possibilidade de reforma de apenas uma parte da Constituição, por uma constituinte exclusiva. Para isso, seria preciso que o Congresso Nacional aprovasse uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que preveja a convocação de constituinte para debater determinado tema.

Podem refletir sobre as Opiniões de alguns especialistas.

Carlos Velloso, ex-presidente do STF - "Uma Constituinte é convocada para mudar uma Constituição inteira. Isso é um despropósito. Não se tem Constituinte pela metade, não se tem poder constituinte originário só em alguns pontos. Mas não precisamos disso. Temos uma boa Constituição, democrática, que só precisa ser alterada em alguns pontos."

Ives Gandra Martins, professor de Direito e jurista- "É este [aprovação de PEC] o único caminho, porque a Constituição, no artigo 14, declarou que o plebiscito só pode ser convocado pelo Congresso Nacional através de lei, o que vale dizer, lei ordinária. Para um plebiscito, para mudar a constituição, só pode ser através de emenda constitucional."

Luís Roberto Barroso, ministro do STF- "O Congresso pode conduzir a reforma política diretamente e, se ele desejar, acho que o Congresso, por emenda constitucional, pode convocar um plebiscito submetendo uma proposta de reforma política. Pode também deliberar pela convocação de um órgão específico para a elaboração da reforma política, mas nunca uma Constituinte Originária, mas uma Constituinte que vai se pautar nos limites estabelecidos pelo Congresso."

Marcus Vinícius Furtado, presidente nacional da OAB- "É muita energia gasta em algo que pode ser resolvido sem necessidade de mexer na Constituição. Basta alterar a Lei das Eleições e a Lei dos Partidos. É isso o que queremos com o projeto de lei de iniciativa popular, que já está pronto, de reforma política. É prático e direto. Acaba com o financiamento de campanhas por empresas e define regras para eleições limpas".

"Em princípio, como são matérias e temas muito complexos e que envolvem muitas variáveis, seria difícil formular questões, perguntas, que permitissem efetiva deliberação popular prévia [plebiscito]. Poderia transformar em cheque em branco ao Congresso porque não tem predefinição dos temas. O instrumento mais adequado me parece o referendo, porque o Congresso vai ter a oportunidade para debater as alterações que precisam ser feitas tanto na Constituição quanto nas leis ordinárias. E, então, submeter a referendo popular."- Gustavo Binenbojm, professor de direito constitucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

"Acho que a força maior está para o lado de consultar a população através de perguntas diretas num plebiscito. Temos que trabalhar rápido para que isso possa alterar o sistema para as eleições de 2014."- Henrique Fontana (PT-RS), autor do projeto de lei de reforma política que tramita na Câmara

"A princípio, uma reposta negativa à matéria consultada [por plebiscito] impede que o Legislativo legisle sobre ela naquele ano, mas uma resposta afirmativa não vincula necessariamente o Congresso." - Adriana Coiro, pesquisadora da FGV Direito Rio

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Entrevista sobre Festas Juninas para o Diário de São Paulo.

1. AS FESTAS JUNINAS SÃO COMEMORADAS DURANTE OS DIAS DOS SANTOS POPULARES (12 A 29 DE JUNHO) QUE CORRESPONDEM A DIVERSOS FERIADOS MUNICIPAIS EM PORTUGAL: SANTO ANTÔNIO, SÃO PEDRO, E SÃO JOÃO. ENTÃO, ESSAS FESTIVIDADES E DATAS FORAM HERDADAS DA NOSSA MATRIZ?


As festas juninas mostram essência multicultural do Brasil. Desvelam em sua origem as permanências culturais advidas de tempos remotos como as festas pagãs que comemoravam a fertilidade da terra e as colheitas. Essas comemorações que aconteciam no mês de Junho. Nesse mesmo mês, na Idade Média passou-se a comemorar com festas, os santos populares em vários países da Europa, fundamentalmente Portugal: as Festa de Santo Antônio, Festa de São João e a Festa de São Pedro e São Paulo principalmente. Trazida para o Brasil pelos portugueses foi incorporada aos costumes das populações indígenas e depois das diversas nações africanas. Tornaram-se hibridas, com uma multiplicidade de expressões. Essas festas mantém elementos das matrizes indígenas, afro e lusa, ou seja, das diversas composições culturais que compoe as culturas tradicionais orais e culturas européias. Estão presentes elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses.

Da França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas e da península Ibérica, a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha. Veio dos países europeus cristianizados dos quais são oriundas as comunidades de imigrantes, chegados a partir de meados do século XIX.

Soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos.

As decorações com que se enfeitam os arraiais de Portugal e Ásia. Os portugueses trouxeram da Ásia, enfeites de papel, balões de ar quente. Embora os balões tenham sido proibidos em muitos lugares do Brasil, eles são usados na cidade do Porto em Portugal com muita abundância e o céu se enche com milhares deles durante toda a noite.

Os instrumentos usados são originários de Portugal e das culturas Africanas - cavaquinho, sanfona, triângulo ou ferrinhos, reco-reco, tambores etc.

As roupas fazem referência ao povo campestre de Portugal ressignificado nos campos brasileiros.

No Brasil, a festa recebeu o nome de "junina" (chamada inicialmente de "joanina", de São João), porque acontece no mês de junho.







2. JUNHO É CARACTERIZADO POR DANÇAS, COMIDAS TÍPICAS, BANDEIRINHAS, ALÉM DAS PECULIARIDADES DE CADA REGIÃO. DURANTE OS FESTEJOS ACONTECEM QUADRILHAS, LEILÕES, BINGOS E CASAMENTOS CAIPIRAS. DE ONDE VÊM ESSAS TRADIÇÕES?

A dança de fitas típicas das festas juninas no Brasil mantém geração após geração a cultura de diversas comunidades tradicionais e as raízes da brasileira. São pedagógicas, passam formas de organização, fazeres e saberes. Nas festas de São João brasileira da Região Nordeste - região árida- agradece-se anualmente a São João Batista e a São Pedro, as chuvas caídas nas lavouras. Época propícia para a colheita do milho.

As comidas feitas de milho integram a tradição, como a canjica, a pamonha, o curau, o milho cozido, a pipoca e o bolo de milho o colher e fazer esses alimentos pratos típicos das festas são elementos marcantes da nossa cultura. Assim como, o arroz-doce, a broa de milho, a cocada, o bom-bocado, o quentão, o vinho quente, o pé-de-moleque, a batata-doce, o bolo de amendoim, o bolo de pinhão etc.

O local onde ocorre a maioria dos festejos juninos é chamado de arraial, um largo espaço ao ar livre cercado ou não, onde barracas são erguidas unicamente para o evento, ou um galpão já existente com dependências já construídas e adaptadas para a festa. Geralmente, o arraial é decorado com bandeirinhas de papel colorido, balões e palha de coqueiro ou bambu.

Nos arraiais, acontecem as quadrilhas, os forrós, leilões, bingos e os casamentos matutos. Estes arraiais são muito comuns em Portugal e não são exclusivos do São João, são parte da tradição popular em geral.

Nessas festas, podemos encontrar imensas semelhanças tanto no Brasil, Portugal, África e Ásia, Macau, Índia, Malásia, na Comunidade Cristang, os portugueses deixaram essa tradição dos santos populares bem marcada.

Atualmente, os festejos ocorridos em cidades do Norte e Nordeste do Brasil dão impulso à economia local. Citem-se, como exemplo,Amargosa, Santo Antônio de Jesus, Piritiba e Senhor do Bonfim na Bahia, em Mossoró no Rio Grande do Norte; em Arcoverde em Pernambuco; Campina Grande na Paraíba; Juazeiro do Norte no Ceará; e Cametá no Pará. Campina Grande (Paraíba), Caruaru (Pernambuco) e Cruz das Almas (Bahia) realizam as maiores festas do Nordeste brasileiro, cada uma delas durando 30 dias. Campina Grande possui o título de Maior São João do Mundo, embora Caruaru esteja consolidada no Guinness Book na categoria festa country (regional) ao ar livre.

Outra região conhecida pelas festividades do mês de junho é o interior de São Paulo, onde ainda se mantém a tradição da realização de quermesses e danças de quadrilha em torno de fogueiras. A culinária local apresenta pratos característicos da época, como a paçoca, o pé-de-moleque, o bolinho caipira, pastéis, canjica e outros. As quermesses atraem também músicos sertanejos e brincadeiras para os mais novos.



3. O QUE SIGNIFICAM ALGUNS SÍMBOLOS TRADICIONAIS DAS FESTAS JUNINAS, COMO A FOGUEIRA, OS BALÕES, PAU DE SEBO E ATÉ MESMO AS COMIDAS TÍPICAS?

A luz proporcionada pela fogueira simboliza a proteção. É um dos principais símbolos da Festa Junina, pois os eventos ocorrem ao redor dela. É também uma homenagem aos três santos da festa: São João, São Pedro e Santo Antônio. A fogueira também proporciona calor, de grande importância no mês de junho em função das baixas temperaturas.Também é conhecida como o aviso do nascimento de João Baptista para Maria Mãe de Jesus. O pau de sebo é uma brincadeira, pois se ensina muito por meio das brincadeiras. Aprende-se organização, lutar por um objetivo, entre outros.

4. O BRASILEIRO TEM MUITO DESSA CULTURA CAIPIRA, DO SERTANEJO. DE ONDE VEM ESSA CULTURA?

As culturas se comunicam, se interligam e se conectam. Não são isoladas. Do contato entre elas surge outra, ressignificada. São transmitidas de geração me geração. Os indivíduos ao se conectarem com sociedades e culturas diversas, compartilharam e ressignificaram saberes, conhecimentos e o que é peculiar, as tradições das comunidades tradicionais ganham espaço como manifestação artística, educacional e histórica.



5. CULTURA POPULAR É O RESULTADO DE UMA INTERAÇÃO CONTÍNUA ENTRE PESSOAS DE DETERMINADAS REGIÕES E ABRANGE INÚMERAS ÁREAS DE CONHECIMENTO COMO, ARTES, MORAL, LINGUAGEM, TRADIÇÕES, COSTUMES, FOLCLORE, ETC. NO BRASIL, NÓS TEMOS UMA GAMA MUITO GRANDE DE DIFERENTES TIPOS DE CULTURA. COMO VOCE EXPLICA ISSO?

A cultura tradicional conjuntamente com a popular e erudita, forma um mosaico de expressões artísticas, culturais e de comportamentos no brasileiro que desvelam nosso processo civilizatório, como fomos construídos enquanto sociedade e quem somos. As matrizes culturais indígenas, africanas e européias dialogam, permanecem e são visíveis na contemporaneidade. Por meio da trajetória da cultura tradicional os pesquisadores desenterram e problematizam continuidades e transformações no comportamento dos indivíduos. Percebem temporalidades, as durações em história, a cultura viva. Dentro da trajetória dessas comunidades nada é considerado passado, por isso não utiliza-se resgatar, mas sim revelar expressões artísticas, educacionais e históricas não privilegiadas. Resgatar significa trazer de volta algo que estava perdido, submerso, e essas comunidades geração após geração não deixaram suas tradições apagarem. A cultura é viva. Algo que vive é algo que sempre esteve presente. Deve-se realizar levantamentos históricos, pesquisas de campo, rever definições e princípios, perceber as tendências pedagógicas das cantigas de roda, rodas de bênçãos, rodas de contação de histórias, participar de encontros dialógicos, círculos de cultura, oficinas de saberes e fazeres, cortejos, culinária, artes e conhecer os fundamentos da produção partilhada do conhecimento produzida por comunidades caipiras de São Paulo. Promover o encontro entre as tradições orais da cultura e os saberes na Universidade; questionar experiências estéticas (sensíveis) como fundamento para a produção e socialização do saber.





Entrevista minha no Washington Post.

http://www.washingtonpost.com/world/brazil-once-revered-now-rocked-by-protest/2013/06/22/1b6c7640-db57-11e2-b418-9dfa095e125d_story_1.html

sábado, 30 de março de 2013

MÍDIA E HISTÓRIA - PROMACK - PROJETO DE PESQUISA - MACKENZIE


HISTÓRIA DA MÍDIA - O Projeto PROMACK desenvolvido por pesquisadores da Universidade Presbiteriana Mackenzie em parceria com o Arquivo do Estado de São Paulo, realiza levantamentos de documentos importantes - jornais, revistas, boletins, fotografias entre outros -  sobre  italianos e portugueses que vieram para o Brasil  e tiveram atuações políticas no período de 1924 a 1945.

O objetivo do projeto é cruzar dados de documentos diversos do DEOPS – antiga polícia política paulista – e de instituições italianas e portuguesas. Pretende problematizar os registros da mídia como documentos históricos.

O projeto de pesquisa existe há seis anos e a cada ano intensifica a internacionalização dos dados e a relação entre história e mídia.

Liderado por professores doutores da Universidade Presbiteriana Mackenzie -  Frederico Alexandre Hecker, Rosana Schwartz, Mirtes Moraes, Ines Minardi, Marcos Nepomuceno e Esmeralda Rizzo,  agora, tem como meta tratar os registros da mídia - fontes - jornais, revistas e fotografias como documentos da história. A intenção é juntar e analisar essas documentações nos períodos de  1924 a 1945, momento em que a presença de italianos e portugueses no Brasil, principalmente em São Paulo foi fundamental nas transformações sociais no país. Além dessas transformações, o Estado Brasileiro passa por reorganizações em suas bases políticas.

Desde o início do projeto foi criada  uma rede internacional de informações que permite rastrear a atuação política militante de alguns dos imigrantes prontuariados pelo DEOPS paulista.

Entre os arquivos consultados, além do Arquivo do Estado de São Paulo onde estão os documentos do  DEOPS, temos o Arquivo da Torre do Tombo, em Lisboa, o Archivio Centrale dello Stato, em Roma, e documentos existentes em Universidades nacionais e estrangeiras (Universidade Nova de Lisboa, Universidade do Porto, Memorial do Imigrante de SP e Arquivo Nacional do Rio de Janeiro).

“As pesquisas realizadas durante os seis anos de existência do Projeto no Archivio Centrale dello Stato di Roma, permitem encontrar documentos completos que não existem no Brasil. Há informações muito importantes sobre ações de fascistas, socialistas, comunistas e anarquistas que interferiram na história brasileira”.

Descobertas
Nas visitas  feita ao arquivo romano, por exemplo, foi possível encontrar documentação dos órgãos de segurança do Estado sobre algumas mulheres militantes envolvidas com o socialismo, comunismo e anarquismo na Itália e no Brasil. “Destacar as ações das mulheres imigrantes trabalhadoras nos espaços públicos e privados é uma questão central da pesquisa, pois a história da cidade de São Paulo é marcada pela interferência dessas mulheres, tanto na vida cotidiana como por meio da organização de associações de bairro, clubes de mães e até sindicatos”.

Durante as pesquisas a equipe fotografa vários documentos e localiza algumas bandeiras e cartazes de propaganda de grupos operários organizados e peças de teatro, que foram enviadas da Itália para o Brasil como modelos para a propaganda política. Conseguiu-se reunir importantes evidências documentais e pistas relevantes para a reconstrução da interferência desses imigrantes na história de São Paulo.

Resultados para o futuro

Com a coleta e avaliação de todos os documentos, o projeto fará com que o acervo já disponível torne-se um extenso Banco de Dados com informações da Polícia Política Paulista (DEOPS), ao longo de seus anos de atividade. A esses dados serão acrescentadas todas as informações internacionais em fase de coleta.
Não existe um prazo determinado para a conclusão do projeto, mas sim caminhos e etapas concluídas com o entrelaçamento das informações.

terça-feira, 12 de março de 2013

Tema palestra do Dia Internacional da Mulher no Rotary

Construção do Gênero Feminino: transformações e permanências.

Profa. Dra. Rosana Schwartz

 Ao longo dos séculos XIX e XX importantes conquistas foram alcançadas pelas mulheres. Direitos de participação política, melhoria das condições de vida e trabalho, acesso à educação e a igualdade de direitos entre os sexos, entretanto, com relação à imagem da mulher na mídia, pouco avançamos.
O gênero feminino permanece associado aos modelos de corpo e representado segundo olhares sexistas.
Assim, problematizar no Dia Internacional da Mulher, a categoria-chave-corpo/imagem, desvela superfícies históricas, simbólicas, visuais e de poder dos discursos médicos, higienistas do século XIX, permanentes nos midiáticos contemporâneos.
A categoria corpo, expressa a cultura, a história, às relações de poder em um espaço mental, geracional com o mundo objetivo e subjetivo em que está inserido. As intervenções ativas da produção simbólica imagética mantêm comportamentos e atitudes de um passado longínquo.
O reconhecimento da complexidade das imagens na vida cotidiana propicia possibilidades de entender o corpo como um documento histórico, refletir sobre as continuidades comportamentais, em meio às transformações sociais no mundo e no Brasil

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Entrevista para o portal UOL. Questionar padrões de beleza é essencial para a autoimagem

As mulheres de proporções ideais, sorriso branquinho, cabelo liso e roupa impecável estão em todos os cantos. Estampam capas de revista, vendem produtos na TV e se exibem em catálogos de moda. Por isso, carregam o status de perfeitas e viram exemplo a ser seguido pelas outras mulheres, as que habitam o único lugar onde as "perfeitas" não se encaixam, a tal da vida real.

"As imagens publicitárias exibem um corpo que deve despertar desejo e paixão, portanto, as mulheres refletidas ali estão estrategicamente alinhadas aos padrões estéticos de cada época", explica a historiadora e socióloga Rosana Schwartz, professora da PUC e do Mackenzie, ambos de São Paulo. É assim há muito tempo, mas a aparência vem se tornando cada vez mais prioridade.

A superexposição da imagem, antes restrita a poucos, foi disseminada pelas redes sociais e o resultado é que, com tanta pressão social, a insatisfação com o corpo se generalizou. "Muitas mulheres acreditam que só poderão ser valorizadas pela sua imagem. Vivemos uma dependência da aparência", analisa a filósofa Marcia Tiburi, autora do livro "Olho de Vidro" (Editora Record).

Não sofrem só as mulheres com sobrepeso, mas também as que têm cabelo ondulado, as de seios pequenos, entre tantas que, por um motivo ou outro, fogem um pouco do tido como ideal. "As imagens atuam no inconsciente da mulher e estabelecem um padrão a ser seguido e adorado. Assim, muitas vezes sem perceber, as mulheres começam a comparar o corpo que têm com o que deveriam ter, pensando no que foi estabelecido como padrão", explica Marcelo Quirino, psicólogo clínico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O veneno está na dose
Na esteira desse processo, encontrar uma mulher completamente bem resolvida com o próprio corpo é cada vez mais raro, mas não necessariamente de todo mau. "Muitas vezes, os modelos colocados pela mídia transmitem também um padrão de saúde. É comum que as pessoas passem a se alimentar melhor e busquem alternativas mais saudáveis para se adequar. Nesse caso, a insatisfação pessoal acaba colaborando para melhorar a qualidade de vida", pondera a psicóloga e professora Ana Cristina Nassif Soares.

O problema começa quando o ideal de perfeição vira parâmetro de realização individual, uma meta que precisa ser conquistada a qualquer custo. Nesse cenário começam a surgir os exageros. Regimes de abstinência, inúmeras cirurgias plásticas, vício por atividades físicas e uso de produtos proibidos para alisar o cabelo são só alguns dos sacrifícios comuns a quem quer se encaixar no padrão de estrela de TV e capa de revista.

Quando o bom senso sai de cena, quem paga um preço alto é a saúde. A insatisfação com o próprio corpo também pode se tornar crônica, caracterizando um transtorno psíquico chamado de dismorfofobia. "O problema é fruto de uma preocupação obsessiva com a aparência física. Mesmo que a pessoa invista nas mudanças que julga necessárias, recorrendo a plásticas ou exercícios, ela não consegue se sentir bonita", explica Quirino. Bulimia e anorexia são alguns dos sintomas desse distúrbio que, além de ser de difícil tratamento, pode desencadear depressão e compulsão.

Perfeita pra quem?
Para fugir dessa neura, o primeiro passo é questionar os padrões estabelecidos, para ver se eles realmente estão de acordo com a sua realidade, suas necessidades e seu estilo de vida. "Muitas vezes fazemos sem nem perceber. É essencial perguntar a si mesma se determinado objetivo estético realmente responde a um desejo pessoal ou se é apenas uma forma de seguir tendência ou agradar ao outro", recomenda Ana. Se não for desejo pessoal, a orientação é repensar, pois o resultado pode não ser o esperado.

A realização em diferentes setores da vida também colabora para diminuir a importância dada à estética. "Mulheres realizadas em outras áreas conseguem romper esse padrão mais facilmente", declara Ana. Daí a importância de buscar satisfação na convivência social, nos relacionamentos amorosos, no trabalho, nos estudos e outras áreas da vida. Tudo isso traz segurança. "Quanto mais segura a pessoa, menos vai se importar com esses modelos impostos", garante.

*Com colaboração de Thais Macena

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça inicia análise das ações de 81 empresas e instituições para igualdade no trabalho

 

 
Comitê Ad Hoc, formado por universidades, vai preparar fase de avaliação dos planos de ação voltados à igualdade de condições e oportunidades para homens e mulheres nas organizações

Experiências das 81 empresas e instituições públicas e privadas participantes da 4ª Edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), serão discutidas na próxima quarta-feira (16/01), em Brasília. A análise será feita pelo Comitê Ad Hoc, composto por pesquisadoras de núcleos de gênero de diversas universidades do país.
O encontro será conduzido pela secretária nacional de Avaliação de Políticas e Autonomia Econômica das Mulheres, Tatau Godinho. O grupo tomará como base os planos de ação propostos por instituições públicas e privadas, focados na promoção da igualdade de oportunidades e de tratamento entre homens e mulheres. Serão verificadas inovações, potenciais iniciativas a serem compartilhadas entre empresas e instituições e possibilidades de aperfeiçoamento do Pró-Equidade de Gênero e Raça, voltadas à adesão de mais organizações.
“As ações estão sendo colocadas em prática nas empresas e esperamos que o sucesso do programa faça com que outras empresas tenham interesse em aderir ao Pró-Equidade de Gênero e Raça em 2013”, afirma a secretária Tatau Godinho.
Nos dias 27 e 28 de fevereiro, acontecerá a avaliação global da quarta edição, com identificação das boas práticas. Essa etapa antecede a finalização do ciclo, que se completa com a entrega do selo Pró-Equidade de Gênero e Raça para as organizações.
O Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça é uma iniciativa do governo federal, por meio da SPM. Conta com o apoio da ONU Mulheres – Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres e da Organização Internacional do Trabalho.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Entrevista concedida ao Portal UOL Tema: Relacionamento entre pessoas de Classes sociais diferentes é tabu na novela e na vida real.

Relacionamento entre pessoas de classes sociais diferentes é tabu na novela e na vida real

Rita Trevisan e Caroline Bastos
Do UOL, em São Paulo

Um casal protagonista formado por um militar relativamente bem-sucedido e estudado e uma garota simples do morro. Essa é a receita da autora Glória Perez para conquistar a audiência de "Salve Jorge". A diferença de classes sociais entre os apaixonados Théo (Rodrigo Lombardi) e Morena (Nanda Costa) levanta a discussão sobre os preconceitos ainda tão arraigados em nossa sociedade e que levam à discriminação dos casais que, por algum motivo, fogem dos padrões.
"No Brasil, as pesquisas mostram que há uma endogamia de classe, ou seja, não é uma lei --como ocorre entre as castas indianas, em que era proibido casar noutra casta--, mas há uma tendência geral de que as pessoas se casem dentro da mesma classe social. É como se fosse uma regra, nem sempre explicitada, mas que é notada em estatísticas", conta a antropóloga Heloisa Buarque de Almeida, professora da USP (Universidade de São Paulo).
Sendo assim, todos os que saem do que é tido como o "normal" ou "natural" --que é se relacionar com pessoas que desfrutam de uma situação econômica parecida-- sofrem as consequências disso. "Se os preconceitos desse tipo existem, é porque ainda há uma dificuldade dos indivíduos em pensar a diversidade. Em grande parte dos casos, a diferença, infelizmente, ainda é sentida como ameaçadora, porque fere a identidade cultural de um grupo perante o outro", explica Rosana Schwartz, historiadora e socióloga especialista em gênero, professora da  UPM, Universidade Presbiteriana Mackenzie e PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo .
Desafios para o casal
Prevalece a idealização das classes mais favorecidas e a estigmatização dos que têm menos poder aquisitivo. Por consequência, o cônjuge que detém os atributos socialmente valorizados terá mais chances de impor seu estilo de vida e sua visão de mundo no cotidiano do casamento. E esse será o primeiro desafio a ser enfrentado pelo casal que decide se unir a despeito das diferenças.


"O principal cuidado é compreender e aceitar a cultura do outro, não comparar ou julgar. Não impor seus valores nem entendê-los como sendo os únicos corretos", diz Rosana. A especialista também afirma que é preciso valorizar o gosto e as práticas cotidianas do indivíduo que não vem de uma família abastada financeiramente e, principalmente, não colocá-lo em situações constrangedoras.

"O cônjuge não pode esperar que o parceiro advindo de meios mais modestos tenha os mesmos padrões de conduta do grupo a que ele pertence”, afirma a socióloga Carolina Pulici, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Da mesma maneira, o que vive uma situação financeira mais confortável pode se deparar com ocasiões em que ele não sabe como agir, e também merece compreensão de seu par.
"Se essas duas pessoas de classes sociais diferentes estão dispostas a perpetuar seus valores originais, relacionados à criação que receberam, dificilmente a relação sobreviverá. É preciso que ambos estejam abertos a construir novos valores, encontrando e valorizando os pontos em que há consenso", diz a socióloga Daniela Auad, professora da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).
O inferno são os outros
A pressão social da família e dos amigos, que podem se posicionar contrários ao romance, também representa um obstáculo a ser vencido. "O diálogo é sempre a melhor forma de neutralizar essas influências. Primeiro, o diálogo entre o casal e, depois, com as famílias e os amigos. O fundamental é que o casal procure fazer com que os outros entendam que as diversidades culturais não inviabilizam os projetos do casal", afirma Rosana.
Por outro lado, ao perceber que há uma resistência muito grande, o melhor é preservar o parceiro. "É sempre bom fazer tentativas de aproximação do cônjuge com a família. Porém, se elas não derem em nada, não há porque expor o seu parceiro a violências que você sabe que não terão fim", diz Daniela. E isso vale para os dois, afinal, ambos os grupos podem hostilizar o outro por ser diferente, seja ele rico ou pobre.

Nesse caso, Daniela defende que o cônjuge pare de frequentar as festas da família ou de amigos que não aceitam o relacionamento e que o casal faça outros tipos de programas juntos. "Isso evita uma série de conflitos que podem ir desgastando o relacionamento aos poucos", diz a socióloga. E, muito embora as interferências externas tenham seu peso na relação, a melhor fórmula para construir uma vida harmoniosa ainda é desconstruir estereótipos e preconceitos de classes. "Em outras palavras, é tratar o outro com respeito e, fundamentalmente, com amor", diz Rosana.