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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Entrevista sobre Festas Juninas para o Diário de São Paulo.

1. AS FESTAS JUNINAS SÃO COMEMORADAS DURANTE OS DIAS DOS SANTOS POPULARES (12 A 29 DE JUNHO) QUE CORRESPONDEM A DIVERSOS FERIADOS MUNICIPAIS EM PORTUGAL: SANTO ANTÔNIO, SÃO PEDRO, E SÃO JOÃO. ENTÃO, ESSAS FESTIVIDADES E DATAS FORAM HERDADAS DA NOSSA MATRIZ?


As festas juninas mostram essência multicultural do Brasil. Desvelam em sua origem as permanências culturais advidas de tempos remotos como as festas pagãs que comemoravam a fertilidade da terra e as colheitas. Essas comemorações que aconteciam no mês de Junho. Nesse mesmo mês, na Idade Média passou-se a comemorar com festas, os santos populares em vários países da Europa, fundamentalmente Portugal: as Festa de Santo Antônio, Festa de São João e a Festa de São Pedro e São Paulo principalmente. Trazida para o Brasil pelos portugueses foi incorporada aos costumes das populações indígenas e depois das diversas nações africanas. Tornaram-se hibridas, com uma multiplicidade de expressões. Essas festas mantém elementos das matrizes indígenas, afro e lusa, ou seja, das diversas composições culturais que compoe as culturas tradicionais orais e culturas européias. Estão presentes elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses.

Da França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas e da península Ibérica, a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha. Veio dos países europeus cristianizados dos quais são oriundas as comunidades de imigrantes, chegados a partir de meados do século XIX.

Soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos.

As decorações com que se enfeitam os arraiais de Portugal e Ásia. Os portugueses trouxeram da Ásia, enfeites de papel, balões de ar quente. Embora os balões tenham sido proibidos em muitos lugares do Brasil, eles são usados na cidade do Porto em Portugal com muita abundância e o céu se enche com milhares deles durante toda a noite.

Os instrumentos usados são originários de Portugal e das culturas Africanas - cavaquinho, sanfona, triângulo ou ferrinhos, reco-reco, tambores etc.

As roupas fazem referência ao povo campestre de Portugal ressignificado nos campos brasileiros.

No Brasil, a festa recebeu o nome de "junina" (chamada inicialmente de "joanina", de São João), porque acontece no mês de junho.







2. JUNHO É CARACTERIZADO POR DANÇAS, COMIDAS TÍPICAS, BANDEIRINHAS, ALÉM DAS PECULIARIDADES DE CADA REGIÃO. DURANTE OS FESTEJOS ACONTECEM QUADRILHAS, LEILÕES, BINGOS E CASAMENTOS CAIPIRAS. DE ONDE VÊM ESSAS TRADIÇÕES?

A dança de fitas típicas das festas juninas no Brasil mantém geração após geração a cultura de diversas comunidades tradicionais e as raízes da brasileira. São pedagógicas, passam formas de organização, fazeres e saberes. Nas festas de São João brasileira da Região Nordeste - região árida- agradece-se anualmente a São João Batista e a São Pedro, as chuvas caídas nas lavouras. Época propícia para a colheita do milho.

As comidas feitas de milho integram a tradição, como a canjica, a pamonha, o curau, o milho cozido, a pipoca e o bolo de milho o colher e fazer esses alimentos pratos típicos das festas são elementos marcantes da nossa cultura. Assim como, o arroz-doce, a broa de milho, a cocada, o bom-bocado, o quentão, o vinho quente, o pé-de-moleque, a batata-doce, o bolo de amendoim, o bolo de pinhão etc.

O local onde ocorre a maioria dos festejos juninos é chamado de arraial, um largo espaço ao ar livre cercado ou não, onde barracas são erguidas unicamente para o evento, ou um galpão já existente com dependências já construídas e adaptadas para a festa. Geralmente, o arraial é decorado com bandeirinhas de papel colorido, balões e palha de coqueiro ou bambu.

Nos arraiais, acontecem as quadrilhas, os forrós, leilões, bingos e os casamentos matutos. Estes arraiais são muito comuns em Portugal e não são exclusivos do São João, são parte da tradição popular em geral.

Nessas festas, podemos encontrar imensas semelhanças tanto no Brasil, Portugal, África e Ásia, Macau, Índia, Malásia, na Comunidade Cristang, os portugueses deixaram essa tradição dos santos populares bem marcada.

Atualmente, os festejos ocorridos em cidades do Norte e Nordeste do Brasil dão impulso à economia local. Citem-se, como exemplo,Amargosa, Santo Antônio de Jesus, Piritiba e Senhor do Bonfim na Bahia, em Mossoró no Rio Grande do Norte; em Arcoverde em Pernambuco; Campina Grande na Paraíba; Juazeiro do Norte no Ceará; e Cametá no Pará. Campina Grande (Paraíba), Caruaru (Pernambuco) e Cruz das Almas (Bahia) realizam as maiores festas do Nordeste brasileiro, cada uma delas durando 30 dias. Campina Grande possui o título de Maior São João do Mundo, embora Caruaru esteja consolidada no Guinness Book na categoria festa country (regional) ao ar livre.

Outra região conhecida pelas festividades do mês de junho é o interior de São Paulo, onde ainda se mantém a tradição da realização de quermesses e danças de quadrilha em torno de fogueiras. A culinária local apresenta pratos característicos da época, como a paçoca, o pé-de-moleque, o bolinho caipira, pastéis, canjica e outros. As quermesses atraem também músicos sertanejos e brincadeiras para os mais novos.



3. O QUE SIGNIFICAM ALGUNS SÍMBOLOS TRADICIONAIS DAS FESTAS JUNINAS, COMO A FOGUEIRA, OS BALÕES, PAU DE SEBO E ATÉ MESMO AS COMIDAS TÍPICAS?

A luz proporcionada pela fogueira simboliza a proteção. É um dos principais símbolos da Festa Junina, pois os eventos ocorrem ao redor dela. É também uma homenagem aos três santos da festa: São João, São Pedro e Santo Antônio. A fogueira também proporciona calor, de grande importância no mês de junho em função das baixas temperaturas.Também é conhecida como o aviso do nascimento de João Baptista para Maria Mãe de Jesus. O pau de sebo é uma brincadeira, pois se ensina muito por meio das brincadeiras. Aprende-se organização, lutar por um objetivo, entre outros.

4. O BRASILEIRO TEM MUITO DESSA CULTURA CAIPIRA, DO SERTANEJO. DE ONDE VEM ESSA CULTURA?

As culturas se comunicam, se interligam e se conectam. Não são isoladas. Do contato entre elas surge outra, ressignificada. São transmitidas de geração me geração. Os indivíduos ao se conectarem com sociedades e culturas diversas, compartilharam e ressignificaram saberes, conhecimentos e o que é peculiar, as tradições das comunidades tradicionais ganham espaço como manifestação artística, educacional e histórica.



5. CULTURA POPULAR É O RESULTADO DE UMA INTERAÇÃO CONTÍNUA ENTRE PESSOAS DE DETERMINADAS REGIÕES E ABRANGE INÚMERAS ÁREAS DE CONHECIMENTO COMO, ARTES, MORAL, LINGUAGEM, TRADIÇÕES, COSTUMES, FOLCLORE, ETC. NO BRASIL, NÓS TEMOS UMA GAMA MUITO GRANDE DE DIFERENTES TIPOS DE CULTURA. COMO VOCE EXPLICA ISSO?

A cultura tradicional conjuntamente com a popular e erudita, forma um mosaico de expressões artísticas, culturais e de comportamentos no brasileiro que desvelam nosso processo civilizatório, como fomos construídos enquanto sociedade e quem somos. As matrizes culturais indígenas, africanas e européias dialogam, permanecem e são visíveis na contemporaneidade. Por meio da trajetória da cultura tradicional os pesquisadores desenterram e problematizam continuidades e transformações no comportamento dos indivíduos. Percebem temporalidades, as durações em história, a cultura viva. Dentro da trajetória dessas comunidades nada é considerado passado, por isso não utiliza-se resgatar, mas sim revelar expressões artísticas, educacionais e históricas não privilegiadas. Resgatar significa trazer de volta algo que estava perdido, submerso, e essas comunidades geração após geração não deixaram suas tradições apagarem. A cultura é viva. Algo que vive é algo que sempre esteve presente. Deve-se realizar levantamentos históricos, pesquisas de campo, rever definições e princípios, perceber as tendências pedagógicas das cantigas de roda, rodas de bênçãos, rodas de contação de histórias, participar de encontros dialógicos, círculos de cultura, oficinas de saberes e fazeres, cortejos, culinária, artes e conhecer os fundamentos da produção partilhada do conhecimento produzida por comunidades caipiras de São Paulo. Promover o encontro entre as tradições orais da cultura e os saberes na Universidade; questionar experiências estéticas (sensíveis) como fundamento para a produção e socialização do saber.





Entrevista minha no Washington Post.

http://www.washingtonpost.com/world/brazil-once-revered-now-rocked-by-protest/2013/06/22/1b6c7640-db57-11e2-b418-9dfa095e125d_story_1.html