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terça-feira, 7 de junho de 2016

Comentários sobre o Filme "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" do diretor e roteirista Daniel Ribeiro


COMENTÁRIO CICLO DE DEBATES

Em Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, o diretor e roteirista Daniel Ribeiro desenvolve uma história universal (a descoberta do primeiro amor) e o desejo de independência dos adolescentes entrelaçada a uma dupla narrativa - homossexualidade e a deficiência física.

Um dos grandes méritos do filme é tratar as particularidades do protagonista como trataria as especificidades físicas e de temperamento de qualquer adolescente. O roteiro evita instrumentalizar as particularidades do protagonista adolescente Leonardo. Os problemas enfrentados por ele são tratados como metáforas para as tensões de qualquer jovem que se sente diferente da maioria.

O cotidiano do personagem revela a sua inserção na sociedade, ele estuda em uma escola junto com outros adolescentes sem deficiência, vai e volta para casa com a amiga Giovana (Tess Amorim) e participa da aula.

Daniel Ribeirnaoevita criar impactos/choques tanto de Leonardo cego escola como em sua descoberta como homossexual. Ultrapassa os típicos relatos cinematográficos de autodescoberta para saltar ao próximo passo: a autoafirmação.

Trabalha os conflitos cotidianos dos jovens da trama de maneira leve, terna e natural.

Em algumas cenas pontuam momentos de bullying praticados por colegas no dia-a-dia de Leonardo, mas destaca que não deixam grandes marcas profundas; as tensões com os pais se dissipam em minutos; as relações afetivas de amizade com Giovana apresentam conflitos comuns entre amigos.

Este roteiro é romântico com preocupação de garantir a todo personagem sua devida cota de amor - o garoto Gabriel (Fabio Audi), paixão de Leonardo, aparece logo na primeira cena, senta-se convenientemente atrás dele, e quando Giovana perde seu grande amor, um aluno novo entra pela porta da sala de aula e sorri para ela.

A estética do filme:
a)      fotografia é suave e homogênea (usando o desfoque da imagem para representar a falta de visão de Leonardo),
b)      o som direto evita ruídos em quartos e salas de aula, a trilha é singela, nunca ostensiva. Por isso, tudo é excessivamente acadêmico: uma pessoa sempre espera a outra concluir sua frase para começar a falar, as cenas iniciam quando um personagem está prestes a dizer alguma frase.
c)      Os enquadramentos seguem a lógica de plano e contra-plano. Nenhuma cena pretende se destacar ou chocar - aliás, fica o aviso para aqueles que se sentiram ofendidos com o beijo gay da novela: dificilmente vão encontrar cena mais natural do que o primeiro selinho entre dois garotos.

Vale ressaltar que o roteiro se passa em um imaginário branco, urbano, de classe média alta, no qual adolescentes em crise não pensam em fugir de casa ou se vingar dos pais, apenas fazer uma viagem de intercâmbio - financiada pelos próprios pais.

O desejo sexual é retratado de maneira pudica - É um retrato intimista de tendência universal, um romance de ternura e cumplicidade que consegue fazer um belo tratado de afetos, sejam eles entre dois garotos, entre um amigo e sua amiga, o garoto e sua avó, ou entre os pais e os filhos.