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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Entrevista para o portal UOL. Questionar padrões de beleza é essencial para a autoimagem

As mulheres de proporções ideais, sorriso branquinho, cabelo liso e roupa impecável estão em todos os cantos. Estampam capas de revista, vendem produtos na TV e se exibem em catálogos de moda. Por isso, carregam o status de perfeitas e viram exemplo a ser seguido pelas outras mulheres, as que habitam o único lugar onde as "perfeitas" não se encaixam, a tal da vida real.

"As imagens publicitárias exibem um corpo que deve despertar desejo e paixão, portanto, as mulheres refletidas ali estão estrategicamente alinhadas aos padrões estéticos de cada época", explica a historiadora e socióloga Rosana Schwartz, professora da PUC e do Mackenzie, ambos de São Paulo. É assim há muito tempo, mas a aparência vem se tornando cada vez mais prioridade.

A superexposição da imagem, antes restrita a poucos, foi disseminada pelas redes sociais e o resultado é que, com tanta pressão social, a insatisfação com o corpo se generalizou. "Muitas mulheres acreditam que só poderão ser valorizadas pela sua imagem. Vivemos uma dependência da aparência", analisa a filósofa Marcia Tiburi, autora do livro "Olho de Vidro" (Editora Record).

Não sofrem só as mulheres com sobrepeso, mas também as que têm cabelo ondulado, as de seios pequenos, entre tantas que, por um motivo ou outro, fogem um pouco do tido como ideal. "As imagens atuam no inconsciente da mulher e estabelecem um padrão a ser seguido e adorado. Assim, muitas vezes sem perceber, as mulheres começam a comparar o corpo que têm com o que deveriam ter, pensando no que foi estabelecido como padrão", explica Marcelo Quirino, psicólogo clínico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O veneno está na dose
Na esteira desse processo, encontrar uma mulher completamente bem resolvida com o próprio corpo é cada vez mais raro, mas não necessariamente de todo mau. "Muitas vezes, os modelos colocados pela mídia transmitem também um padrão de saúde. É comum que as pessoas passem a se alimentar melhor e busquem alternativas mais saudáveis para se adequar. Nesse caso, a insatisfação pessoal acaba colaborando para melhorar a qualidade de vida", pondera a psicóloga e professora Ana Cristina Nassif Soares.

O problema começa quando o ideal de perfeição vira parâmetro de realização individual, uma meta que precisa ser conquistada a qualquer custo. Nesse cenário começam a surgir os exageros. Regimes de abstinência, inúmeras cirurgias plásticas, vício por atividades físicas e uso de produtos proibidos para alisar o cabelo são só alguns dos sacrifícios comuns a quem quer se encaixar no padrão de estrela de TV e capa de revista.

Quando o bom senso sai de cena, quem paga um preço alto é a saúde. A insatisfação com o próprio corpo também pode se tornar crônica, caracterizando um transtorno psíquico chamado de dismorfofobia. "O problema é fruto de uma preocupação obsessiva com a aparência física. Mesmo que a pessoa invista nas mudanças que julga necessárias, recorrendo a plásticas ou exercícios, ela não consegue se sentir bonita", explica Quirino. Bulimia e anorexia são alguns dos sintomas desse distúrbio que, além de ser de difícil tratamento, pode desencadear depressão e compulsão.

Perfeita pra quem?
Para fugir dessa neura, o primeiro passo é questionar os padrões estabelecidos, para ver se eles realmente estão de acordo com a sua realidade, suas necessidades e seu estilo de vida. "Muitas vezes fazemos sem nem perceber. É essencial perguntar a si mesma se determinado objetivo estético realmente responde a um desejo pessoal ou se é apenas uma forma de seguir tendência ou agradar ao outro", recomenda Ana. Se não for desejo pessoal, a orientação é repensar, pois o resultado pode não ser o esperado.

A realização em diferentes setores da vida também colabora para diminuir a importância dada à estética. "Mulheres realizadas em outras áreas conseguem romper esse padrão mais facilmente", declara Ana. Daí a importância de buscar satisfação na convivência social, nos relacionamentos amorosos, no trabalho, nos estudos e outras áreas da vida. Tudo isso traz segurança. "Quanto mais segura a pessoa, menos vai se importar com esses modelos impostos", garante.

*Com colaboração de Thais Macena