Por Rosana Schwartz
A história não é
estática e tão pouco sólida, entre permanências e transformações segue em
movimento constante pelas ações sociais. Tanto indivíduos como Estados se aperfeiçoam e
incorporam valores éticos e morais construídos em sua trajetória. Sustento que
as Nações quanto mais garantam o direito dos seus cidadãos, regidos por uma
Constituição, e conhecem a sua história caminham no sentido do aprimoramento e
civilidade. É dentro dessa perspectiva que em tempos de volatilidade política,
ou crise, necessitamos defender o Estado de Direito, a liberdade de expressão e comunicação. Um país
com sérios problemas com relação à escrita da sua própria história, repleto de interferências
enraizadas positivistas, que interpretou o Brasil sob os olhares eurocêntriscos
em seus manuais de ensino, ainda trata com dificuldade a sua memória e a
política. Entre ações e reações até 1930, o poder sob o direcionamento de uma
oligarquia rígida dificultaram a passagem para a sociedade civil. Política, a
coisa pública, o mundo público se impunha dentro das relações de poder,
confundindo esfera pública e esfera privada. O personalismo português, presente
na cultura brasileira, expresso na figura das lideranças políticas emaranhavam,
diluíam e desmanchavam as pretensas propostas e alianças dos partidos políticos
nas mentes da população. Sem entender sobre e sem saber o que fazer a maioria
dos brasileiros assistiram perplexos arrancarem dos bastidores vices presidentes
para entrarem sem cena em meio a crises, golpes, contragolpes e falecimentos. Não
foram poucos e percorrem a nossa história, desde Floriano Peixoto, Nilo
Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulat, José Sarney e Itamar Franco. O
espírito crítico, que esteve fora de moda e proibido, durante o período
denominado de Ditadura Militar, desde o início da última década renasceu, em
meio às manifestações, repletas de organizações tradicionais e novas nas redes
sociais. Carregado de energia, protestos afloraram não só problemas pontuais da
vida cotidiana como também suspenderam o véu que encobria as relações de poder,
alianças, acordos e questões complexas dentro e fora dos partidos políticos. Desequilibraram
com certeza o jogo de poder e atingiram o nervo crítico da política do país. A história, em 2015 se repete, não sabemos
ainda se como farça ou tragédia. Novamente segundos podem se tornar primeiros. O
vice-presidente Michel Temer (PMDB), talvez saia dos bastidores e se coloque na
trama central no lugar da presidente Dilma Rousseff (PT). Antítese ao Partido
dos Trabalhadores, o personagem Temer tenta construir imagem de apaziguador
constitucionalista. Presidente do PMDB uniu interesses díspares regionais e
sub-regionais do seu partido. Importante apoio à Dilma amansou leões e sem
querer se mostrar, se posicionou em meio à crise moral, política e econômica
que assola o governo. A crise que sangra o país engloba múltiplos sistemas e
atores, não é só do partido da presidente e sua base de apoio. Apresenta fatores
contraditórios - por um lado, a questão da legitimidade adquirida pelo voto e a
falta de provas cabais para levar à um impeachment e por outro, o crescente discurso
sobre a necessidade de socorro à ética e à economia. Dois lados que se espetacularizam
na mídia e redes sociais. Estamos assistindo mais uma vez um grande espetáculo,
e na incerteza do seu roteiro, a única certeza é que a história brasileira
sempre apresenta vices presidentes que entram em cena de improviso e assumem a
direção.
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