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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Quando novos e antigos personagens entram em cena: a crise política brasileira.


Por Rosana Schwartz


A história não é estática e tão pouco sólida, entre permanências e transformações segue em movimento constante pelas ações sociais.  Tanto indivíduos como Estados se aperfeiçoam e incorporam valores éticos e morais construídos em sua trajetória. Sustento que as Nações quanto mais garantam o direito dos seus cidadãos, regidos por uma Constituição, e conhecem a sua história caminham no sentido do aprimoramento e civilidade. É dentro dessa perspectiva que em tempos de volatilidade política, ou crise, necessitamos defender o Estado de Direito, a  liberdade de expressão e comunicação. Um país com sérios problemas com relação à escrita da sua própria história, repleto de interferências enraizadas positivistas, que interpretou o Brasil sob os olhares eurocêntriscos em seus manuais de ensino, ainda trata com dificuldade a sua memória e a política. Entre ações e reações até 1930, o poder sob o direcionamento de uma oligarquia rígida dificultaram a passagem para a sociedade civil. Política, a coisa pública, o mundo público se impunha dentro das relações de poder, confundindo esfera pública e esfera privada. O personalismo português, presente na cultura brasileira, expresso na figura das lideranças políticas emaranhavam, diluíam e desmanchavam as pretensas propostas e alianças dos partidos políticos nas mentes da população. Sem entender sobre e sem saber o que fazer a maioria dos brasileiros assistiram perplexos arrancarem dos bastidores vices presidentes para entrarem sem cena em meio a crises, golpes, contragolpes e falecimentos. Não foram poucos e percorrem a nossa história, desde Floriano Peixoto, Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulat, José Sarney e Itamar Franco. O espírito crítico, que esteve fora de moda e proibido, durante o período denominado de Ditadura Militar, desde o início da última década renasceu, em meio às manifestações, repletas de organizações tradicionais e novas nas redes sociais. Carregado de energia, protestos afloraram não só problemas pontuais da vida cotidiana como também suspenderam o véu que encobria as relações de poder, alianças, acordos e questões complexas dentro e fora dos partidos políticos. Desequilibraram com certeza o jogo de poder e atingiram o nervo crítico da política do país.  A história, em 2015 se repete, não sabemos ainda se como farça ou tragédia. Novamente segundos podem se tornar primeiros. O vice-presidente Michel Temer (PMDB), talvez saia dos bastidores e se coloque na trama central no lugar da presidente Dilma Rousseff (PT). Antítese ao Partido dos Trabalhadores, o personagem Temer tenta construir imagem de apaziguador constitucionalista. Presidente do PMDB uniu interesses díspares regionais e sub-regionais do seu partido. Importante apoio à Dilma amansou leões e sem querer se mostrar, se posicionou em meio à crise moral, política e econômica que assola o governo. A crise que sangra o país engloba múltiplos sistemas e atores, não é só do partido da presidente e sua base de apoio. Apresenta fatores contraditórios - por um lado, a questão da legitimidade adquirida pelo voto e a falta de provas cabais para levar à um impeachment e por outro, o crescente discurso sobre a necessidade de socorro à ética e à economia. Dois lados que se espetacularizam na mídia e redes sociais. Estamos assistindo mais uma vez um grande espetáculo, e na incerteza do seu roteiro, a única certeza é que a história brasileira sempre apresenta vices presidentes que entram em cena de improviso e assumem a direção.   

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