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Pesquisadora. Área de atuação -História Cultural - Historiografia da Mídia - Cidade - Movimentos e entidades Sociais. Atuação Doutora em História pela PUC/SP - Professora do Programa de Pós- Graduação - Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura - Universidade Presbiteriana Mackenzie.
quarta-feira, 6 de março de 2019
domingo, 3 de fevereiro de 2019
Representações femininas na literatura do século XIX: Dom Casmurro e Primo Basílio.
Representações femininas na literatura do século XIX: Dom
Casmurro e Primo Basílio.
DOM CASMURRO: Romance Memorialista - oferece
a construção de algo que se produz e se elabora na recuperação do vivido e do passado.
Nesse sentido, que Dom Casmurro deve ser encarado, enquanto recomposição
da imagem e cotidiano d época. Apresenta a misoginia da prática
literária do século XIX – as imagens estereotipadas de mulher associadas a anjo
- Maria ou monstro – Eva propicia o desvelamento da ideologia da sociedade patriarcal
brasileira, embutida na construção das personagens e no desenrolar da própria
trama.
Desenvolve uma prosa reveladora dos meandros da
alma humana e através da ironia sutil, descortinar as mazelas da sociedade
brasileira do século XIX, ainda colonial escravocrata e autoritária.
Em
Dom Casmurro aborda questões sobre o feminino/masculino, espaço
privado/público, formas de comportamentos, casamento, maternidade, fidelidade,
religião, resistências e tensões, a partir do ponto de vista de um narrador
homem e maduro – 50 anos.
Há, referências sobre a
construção cotidiana do espaço,
à mulher e à
burguesia fluminense do século XIX.
A
narrativa é centrada num narrador personagem, que conta sua estória vivida, possibilitando
pistas para a reconstrução de aspectos da vida cotidiana da época.
Narrado em primeira pessoa, remonta a história da vida de Bentinho
(Dom Casmurro), desde a infância, seu envolvimento com Capitu e a incerteza da
fidelidade da mulher entre 1857 até a separação entre Bentinho e Capitu
provavelmente em 1872.
Sugere
uma gama de locais, que possibilitam a reconstrução do período - (casa materna
Rua Matacavalos, reprodução desta casa no Engenho Novo, seminário, casa de
Pádua, casa de Bentinho na Glória, casa de Escobar em Andaraí, casa de Escobar
no Flamengo, casa de Capitu na Suíça, o passeio público e outros).
A narrativa de Machado de Assis joga
com os valores culturais e sociais vigentes no período imperial, com a condição
feminina - as personagens refutam, questionam os papéis que lhe são impostos na
sociedade brasileira.
Capitu é uma mulher que transcende a definição
de esposa, mãe e o estereótipo de mulher/Maria é a Eva. Busca transpor o
estabelecido; luta por emancipar-se, pois está cansada das exigências sociais e
familiares que lhes são destinadas; quer experimentar algo que saia de si
própria. Entretanto, o
narrador pertencente a sociedade patriarcal, vê as mulheres como seres
inferiores e nesse sentido, os olhos de Capitu correspondem em termos de força
e intensidade, às palavras do marido. A mulher é silenciada e sua voz
transborda através do olhar que trava uma luta intensa com o homem, detentor da
palavra, e do poder.
Seu corpo está sempre em evidência, propiciando
relações e imagens de vários tipos: os olhos, por exemplo, “são claros e
grandes” (Assis, 1997: 85) ou então, “são de cigana oblíqua e dissimulada”
(Assis, 1997: 85) e os braços são tão deslumbrantes
que “merecem um período” (Assis, 1997:
210). Traços que a faz oscilar entre a mulher
Eva/fatal/desregrada/perigosa e a dona de casa/Maria/submissa/sofredora.
Como Eva, encontra na rua o ambiente ideal para
se deixar contaminar pela possibilidade de traição: a figura feminina ao se
mostrar num espaço público instaura a dúvida, a ambigüidade, pois apresenta a
chance de se oferecer, na condição de promessa ou, até mesmo, mercadoria.
O
leitor se depara com a abordagem dos variados temas universais existentes em
Dom Casmurro, dentre os quais se encontra o adultério. Era evidente o apreço pelos moldes
originários da França, o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, e
escritos como os de Émile Zola, que possuíam a traição
conjugal como fio
condutor de suas
respectivas tramas.
O
diferencial de Machado no que
concerne à abordagem da traição
reside em sua recusa em biologizar problemas ou atribuir a eles um levantamento
social que aponta o enfado da mulher burguesa como motivação para as relações
adúlteras.
As
mulheres cuja honra é posta à prova estão presente nas obras machadianas, como
Marcela - Memórias Póstumas , Sofia - Quincas
Borba e Guiomar
- A mão e
a luva. As fatais também a
aparecem com Carmem, Manon Lescaut, Naná
e Salomé, “figuras
de fascínio evidente” (PASSOS,
2003, p. 31).
As mulheres de Machado de Assis são personagens obstinadas e
espirituosas. Fazem o que desejam e articulam suas vontades em meio a homens
inseguros e mal-resolvidos.
As
Mulheres no Século XIX e Capitu.
O feminino e o masculino são construções
históricas, sociais e culturais. Os discursos médicos, a educação, o
cientificismo, a política higienista, o positivismo e a Igreja, durante o
século XIX recriam e criam sob o olhar e poder masculino, justificativas sobre
a dominação dos homens sob as mulheres, a divisão sexual do trabalho e o poder
do homem branco europeu e norte-americano sobre os demais – teorias raciológicas.
Capitu,
dona dos lendários “olhos de cigana oblíqua e
dissimulada” é representada, igualmente,
sob a óptica
de elementos literários
franceses, porém inserida nos âmbitos social, familiar e cultural
brasileiro.
A
narrativa é centrada num eu-narrador, personagem da estória - Bentinho como D.
Casmurro – Dificilmente é dada voz a CAPITU.
1-
A
construção da figura de Capitu é intencional, certas características sugeridas
na primeira parte do romance têm o papel de apoiar a traição da segunda parte.
No capítulo XXXIV percebe-se a admiração de Bentinho pela
capacidade de disfarce de Capitu com tom de espanto de fugir á regras sociais.
“...Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mão apontou à porta,
ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de
acanhamento, um riso espontâneo...”
Ao
longo desse percurso, o objetivo de Bentinho é o de caracterizá-la como uma
jovem voluntariosa, ativa, racional, calculista, capaz de lidar facilmente com
situações embaraçosas e que está disposta a tudo para atingir suas metas. O
narrador montou sua narrativa de modo a fazer caber na Capitu de Matacavalos a
Capitu adúltera da Glória e a faz parecer como um ser reprimido, sem contorno e
silenciado.
Capitu
pode ser vista como o feminino inquietante, o perigo invisível que ronda
a casa do século XIX. Machado constrói
uma imagem de mulher perigosa, segundo os discursos médicos, apela para alguns
dados de categorias de mulheres que destroem a vida e a reputação de um homem.
A
heroína conflui para a dissimulação e, por isso, quando é feita a comparação
com Desdêmona, não há nenhuma chance de perdoá-la ou de nos apiedarmos dela.
De
fato, Capitu abre precedentes para que se duvide de suas intenções é uma
personagem calculista e transgressora, dona de seus atos e com poder de decisão.
O
tema da mulher fatal é tão recorrente na obra que o tempo todo o vemos
relacionado com a degradação e, sobretudo com a perda da inocência do narrador.
Durante a narrativa, Capitu aparece como um ser mais capacitado, infinitamente
mais maduro e dotado de muito mais atributos e sensualidade do que
Bentinho/Casmurro.
2-
Apresenta
também a importância da figura materna, que aparece desde a infância - o
narrador-personagem cresceu a sombra de duas mulheres.
3- Capitu é a representação da "MULHER
DAS CLASSES MENOS PRIVILEGIADAS"- Machado de Assis relacionava os
sentimentos humanos às condições sociais,
como o fizeram
Shakespeare, Prévost e
Mérimée, construindo a convivência mesurada entre universalismo determinismo
geográfico, localismo.
4-
Perseverante
aos problemas que a sociedade lhe impõe, lutadora por aquilo que deseja e pelos
seus direitos, mesmo com suspeitas sobre si de uma hora para outra ela demonstra segurança invejável:- é ela
que elabora o primeiro plano para livrar Bentinho do seminário (cap. XVIII);
diverte-se convertendo a hesitação de Bentinho em ação (cap. XXXIII); beija
Bentinho antes do pai entrar (cap. XXXVII); muda o rumo da conversa após o
beijo (cap. XXXVIII); coloca o dedo de Bentinho na boca (cap. XXXIX); não teme
revelar seus desejos diante da mãe e contém a cólera (cap. XVII); não teme
admitir diante de Bentinho que conhece sua fraqueza "...Você? Você
entra..." "... Você verá se entra ou não." (cap. XVIII); etc.
5-
Em “Dom Casmurro” opiniões severas quanto à imagem feminina
aparecem em personagens como José Dias ao falar sobre os olhos de Capitu, da
força de suas palavras que é tão grande ao ponto de Bentinho repetir a mesma
frase e a afirmação acaba por tornar-se uma obsessão para o protagonista. José
Dias pergunta a Bentinho: “Você já reparou os olhos dela? São assim de cigana
oblíqua e dissimulada. Pois, apesar deles, poderia passar se não fosse a
vaidade e a adulação.”
6-
Os protagonistas se apresentam sexistas como impunha a consciência
social daquele período, transformando os relatos em visões unilaterais das
ocorrências.
7-
O
tema do adultério é exposto a perspectiva masculina.
8-
Apresenta visão crítica e incisiva dos narradores diante das
personagens femininas. O romance apresenta a opinião e julgamento das ciências
da época sobre as mulheres, por isso as personagens femininas são descritas
como dissimuladas interesseiras, sensuais, eróticas, traiçoeiras e caprichosas
por um lado e por outro a mãe matriarcas.
9- Sob vários aspectos,
Capitu é uma mulher inventada em sua condição de produto de desejo,
aparece consciente da dependência de
Bentinho em relação à mãe (cap. XVIII); e por isso
aproxima-se de dona Glória a partir do episódio do
Protonotário Apostólico (cap. XXXV); é aceita como nora antes mesmo de
anunciado o namoro e casamento (cap. C), etc.
10- Ela é
reflexiva:- colhe informações e medita sobre o assunto antes de conceber o
plano (cap. XVIII); medita sobre a conversa entre mãe e filho (cap. XLII),
etc.É econômica:- economizou dez libras esterlinas sem o conhecimento de
Bentinho (cap. CVI). Capitu é capaz de fazer o que é necessário para atingir
seus objetivos.
11- No romances predomina a visão negativa sobre as
mulheres. Expõe a natureza feminina de maneira depreciativa ou caracteriza a
mulher como um mal necessário à sociedade.
12- Os romances parecem construídos à conclusão de
que as mulheres serão a ruína dos homens, sendo estas sempre manipuladoras,
dissimuladas e artificiosas, construídas a partir do arquétipo de Eva que guiará
os homens à expulsão do paraíso.
13- Silenciada, acuada e sem a menor
possibilidade de defesa, a mulher deverá ser punida de sua possível
transgressão – de preferência com a morte –, a fim de que seja mantida a ordem
na sociedade. O envio de Capitu à Suíça e lá sua morte simbolizam a manutenção
da ordem rompida e põe um fim ao risco.
As mulheres na
literatura eram representadas segundo os valores da sociedade em Primo Basílio,
Eça de Queiroz apresenta Luísa desde o início do romance, como uma
mulher sonhadora que fantasia com o mundo romântico e idealizado dos livros que
lê. No romance fica fácil perceber que essas idealizações são de natureza
erótica e denunciam sua insatisfação com a ociosidade de seu cotidiano. Nesse
sentido, a busca pela realização de suas fantasias acaba levando-a a degradação
moral feminina – o adultério – a transforma de ser inerte à ser móvel,
revestido de negatividade e repugnância.
A traição de Luísa é fruto de um instinto sexual reprimido
e não convenientemente sublimado, conforme as exigências do código social. Uma
de suas múltiplas tentativas de sublimação está no refúgio da leitura
romântica.
Por não encontrar no lar as emoções suficientes ao
seu temperamento e imaginação ardentes e também por não possuir uma educação
capaz de a sustentar e dirigir, Luísa opta pela destruição de sua condição de
esposa que esperava dela uma conduta condizente à suas promessas de fidelidade
e companheirismo.
Temos a personagem diante de sua própria
sexualidade, em circunstâncias conflitivas, que implicam na existência de uma
lei que deve ser respeitada. Sendo assim, a construção da personagem tem como
premissa que uma mulher possuidora de uma educação lírica sentimental, baseada
na leitura de folhetins baratos e de linguagem romântica, endossada pela
ausência do pai e pelo pulso fraco da mãe, se transforma em nada menos que
idealizadora de um príncipe encantado.
Tanto Luísa quanto Capitu só têm a possibilidade de ocupar
um espaço dentro da sociedade em que vivem: aquele que lhes é reservado pela
expectativa criada por uma ideologia autoritária e patriarcal.
A nenhuma delas é possível sair de seu espaço restrito para
se aventurar num mundo mais amplo, mundo este do trabalho e da realização
pessoal.
Ao propagarem um discurso alheio, masculino e arbitrário,
essas heroínas são, também, criaturas criadas por autores masculinos que falam
por elas.
Boa Reflexão.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
Os Kaxinawás do Acre, criam game sobre sua história para preservar cultura local
https://www.youtube.com/watch?time_continue=131&v=f5m88A4oRHo
por Revista Prosa, Verso e Arte.
Ao longo dos últimos anos a tecnologia assumiu um papel importante em nossas vidas, influenciando no modo que agimos e pensamos. Recentemente, todo esse aparato tecnológico foi usado como ferramenta para preservação cultural do povo indígena Kaxinawá. A tribo Huni Kuin (ou Kaxinawá) desenvolveu um jogo eletrônico, que pode ser baixadogratuitamente, possibilitando uma experiência de intercâmbio de conhecimentos e memórias indígenas. Isso mesmo, a comunidade indígena localizada no Acre, Brasil, montou uma equipe de programadores, artistas e antropólogos para criar seu próprio videogame. O projeto se chama Huni Kuin: os caminhos da jiboia e trata-se de um jogo de plataforma de cinco fases, onde cada fase conta uma antiga história do povo Huni Kuin. A proposta é propiciar uma imersão no universo Huni Kuin, em que os jogadores possam entrar em contato com saberes indígenas – como os cantos, grafismos, histórias, mitos e rituais deste povo – possibilitando uma circulação destes conhecimentos por uma rede mais ampla.
“Um casal de gêmeos kaxinawá foram concebidos pela jiboia Yube em sonhos e herdaram seus poderes especiais. Um jovem caçador e uma pequena artesã, ao longo do jogo, passarão por uma série de desafios para se tornarem, respectivamente, um curandeiro (mukaya) e uma mestra dos desenhos (kene). Nesta jornada, eles adquirirão habilidades e conhecimentos de seus ancestrais, dos animais, das plantas e dos espíritos; entrarão em comunicação com os seres visíveis e invisíveis da floresta (yuxin), para se tornarem, enfim, seres humanos verdadeiros (Huni Kuin).”
quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
Vocês já ouviram falar sobre a Maria Lacerda de Moura, uma professora e escritora libertária - anarquista que revolucionou os discursos médicos do inicio do século XX?
Criação e recriações de Maria Lacerda de Moura
Maria Lacerda de Moura foi uma professora e escritora libertária - anarquista que revolucionou os discursos médicos do inicio do século XX.
Criativa, crítica e combativa escreveu inúmeros
artigos e livros que questionavam mitos científicos e discursos médicos sobre o
corpo e a sexualidade feminina. Dentre sua produção, duas obras se tornaram
referência para a luta em prol da emancipação feminina: “A mulher é uma Degenerada?”,
de 1924 e “Amai e não vos multipliqueis” também da década de 20.
Condenava em todos os seus escritos, os
costumes, a moral e o status burguês da sociedade brasileira da época e proclamava
a igualdade entre mulheres e homens, bem como, a luta pela emancipação feminina
e reconhecimento da necessidade de sua independência e autonomia econômica.
Como professora, centralizava seus ensinamentos
no despertar da consciência feminina, pois acreditava que a mulher seria capaz
de reformar o mundo por ser educadora dos filhos e disciplinadora da família. Em
seu Livro “Lições da Pedagogia”, de 1925, problematiza os problemas do analfabetismo
nas sociedades, e principalmente o feminino. Afirmava que era esse o motivo ads
diferenças entre
Em 1923 rompe com os Anarquistas em decorrência
das suas posições favoráveis a obra educacional do Ministro Soviético
Lunacharsky, na palestra “Conformado e Rebelde”, do Jornal “A Plebe”. Uma série
de artigos do jornal A Plebe (4/8/23,
4/9/23, 27/9/23 e10/10/23) relatam a atitude independente da conferencista com e as posições contrárias dos anarquistas com relação as posições de Maria Lacerda. Somente dez anos depois, em 1933, é que voltaria a se aliar com os anarquistas na campanha contra a guerra e na famosa Liga AntiClerical, que foi ponto de resistência e a mais forte expressão anarquista
no Rio de Janeiro até 1930
terça-feira, 22 de janeiro de 2019
São Paulo. Você sabia?
Parabéns
São Paulo.
Por
Rosana Schwartz
Comemora-se o aniversário de São Paulo, local de múltiplas temporalidades, na qual a noção e
sensação de tempo passam por diversas temporalidades, ou seja, a cidade
apresenta ritmos diferentes em seus espaços. Essa temporalidade cria a ideia de
constante transformação, mudança, onde tudo pode ser inserido no processo de
construção de uma cidade que nunca para e que mais cresce. Sua estrutura
desvela aspectos da construção simbólica e imaginária de cidade moderna/nova
entrelaçada com a dialética do arcaico/velho, ou seja, as permanências das
raízes rurais, advindas dos fazendeiros de café e do caipira/camponês
misturaram-se com o imaginário social de modernidade trazido pelos imigrantes
europeus no século XIX. O homem civilizado e o sentimento de progresso penetram
nas entranhas da cidade. Para entender São
Paulo de hoje, como qualquer outro lugar, faz-se necessário percorrer sua
construção histórica e o século XIX torna-se ponto chave. Cidade em crescente
ascensão, na qual se deu uma industrialização rápida, graças aos capitais liberados
pelo café, presença de uma elite esclarecida cosmopolita e progressista que
deseja forjar em seu território uma consciência Moderna na busca de uma
identidade Nacional. Com o processo de imigração em seus diversos fluxos de
entrada na cidade, sua configuração espacial e social foi sendo alterada
rapidamente diversas vezes. São Paulo do século XIX e XX reaparece sob o signo
da industrialização positiva, sinônimo de progresso, num clima de euforia e de
pseudo “confraternização”, local que recebe todas as etnias, indivíduos de
todas as culturas.O cosmopolitismo urbano na cidade de São Paulo gera o Mito do urbano da Metrópole, uma
metrópole que compete com as outras e busca a constantemente a sua identidade. Essa
cidade é a do homem disciplinado, espelho das grandes metrópoles européias e
americanas do século XIX, do futuro e da oposição ao mundo velho. A representação
do NOVO ocorre através da construção do MITO do heróico, de criação da idéia de
uma nova “RAÇA”, onde houve o cruzamento das etnias indígenas, européia
portuguesa e dos outros imigrantes, com o africano. A
industrialização que vai parecer como uma característica inerente ao paulista é
completada pelo mito do BANDEIRANTE,
com seu passado glorioso, desbravador, onde as fronteiras do país foram
conquistadas por ele. Assim, forjando a idéia de que o Brasil é o que é, por
causa desse homem, por causa das entradas e Bandeiras, delimitando as
fronteiras. Sempre se modernizando, crescendo, valoriza as práticas e ações dinâmicas
como as ações dos jovens. Seus jovens, mulheres e homens marcaram história,
unidos aos operários na Greve Geral de 1917, em 1932 na Revolução
Constitucionalista contra Getúlio Vargas e em diversos outros momentos. Conservadora
e revolucionária, a cidade se constrói e se reconstrói. Apaga e cria memórias. Suas extensões territoriais, seus bairros cresceram
acompanhando a especulação imobiliária e a expansão das linhas do trem. Entre
locais povoados e vazios urbanos se desenvolveu de forma irregular e sem
controle. Desde o inicio do século XX,
Planos e Projetos Urbanísticos audaciosos não conseguiram acompanharam seu
ritmo. Antagônica e dialética é composta por uma cidade oculta, invisível, da
periferia, abandonada a própria sorte e outra visível rica, com infraestrura dos
bairros nobres. Bela e acolhedora convive ao mesmo tempo com suas raízes
frias e perversas.
São
Paulo carece de entendimento e é impossível não te amar.
Viva São Paulo!
segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
O que é ideologia de gênero.
Por: Roseane Aguirra
A expressão “ideologia de gênero” foi muita citada durante o período eleitoral e também no discurso de posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, no dia 1º de janeiro de 2019, quando disse que iria combatê-la em seu governo.
Notícias falsas que circularam no período deixaram muita gente confusa quanto à definição do termo e o perigo que poderia oferecer às crianças.
Mas o que é ideologia de gênero?
Para Rosana Schwartz, historiadora e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, o termo não existe. “Gênero é uma categoria de análise da história. Não existe ideologia de gênero. O que existe é um método que foi criado nos anos 1980 para que você estude a história pela perspectiva da mulher e das categorias minorizadas,” explica Rosana, ao se referir aos grupos que foram pouco considerados na história tradicional, como trabalhadores do campo, homossexuais, mulheres e negros.
Para Rosana Schwartz, historiadora e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, o termo não existe. “Gênero é uma categoria de análise da história. Não existe ideologia de gênero. O que existe é um método que foi criado nos anos 1980 para que você estude a história pela perspectiva da mulher e das categorias minorizadas,” explica Rosana, ao se referir aos grupos que foram pouco considerados na história tradicional, como trabalhadores do campo, homossexuais, mulheres e negros.
“Antes, alguns sujeitos entravam para a história,por que eram considerados heróis, mitos. O que era importante mesmo, não aparecia. Por exemplo, a ação das mulheres na vida cotidiana, nas guerras, nas lutas por direitos civis, sociais e pelas igualdades salariais entre homens e mulheres”, explica.
Gênero, como uma categoria de análise, pode trazer questões sobre o feminino, o masculino e as múltiplas sexualidades. Nós podemos estudar qualquer fato por esses vieses.
Igualdade acima de tudo
Segundo a historiadora, o estudo do gênero busca por igualdade, correções de assimetrias e a tolerância. “Estudar gênero é respeitar o outro como ele é, é ter tolerância, reconhecer a diversidade, as diferenças. É agir no sentido da desconstrução dos preconceitos. Os preconceitos e estereótipos são construídos historicamente. Então, com as discussões e debates se consegue caminhar no sentido de desconstruí-lo.”
Segundo a historiadora, o estudo do gênero busca por igualdade, correções de assimetrias e a tolerância. “Estudar gênero é respeitar o outro como ele é, é ter tolerância, reconhecer a diversidade, as diferenças. É agir no sentido da desconstrução dos preconceitos. Os preconceitos e estereótipos são construídos historicamente. Então, com as discussões e debates se consegue caminhar no sentido de desconstruí-lo.”
A partir dessa perspectiva, segunda ela, é possível discutir a violência, o sexismo, a desqualificação dos indivíduos desde os discursos médicos e higienistas do seculo XIX, as questões étnicos-raciais.
“Não tem ligação direta com questões políticas e ideológicas que os conservadores estão falando no Brasil. É um desconhecimento teórico muito grande das pessoas que realizam essa fala. Os estudos de gênero proporcionam oportunidades para as pessoas minorizadas entrarem para a história, elas acabam aparecendo nos mais diversos estudos acadêmicos, nas mídias.
Então, é lógico que alguns setores da sociedade acabam não gostando,” afirma.
Então, é lógico que alguns setores da sociedade acabam não gostando,” afirma.
E nas escolas?
Segundo Claudia Vianna, professora da Faculdade de Educação da USP e líder do grupo de Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual (Edges), tratar a questão de gênero nas escolas parte do mesmo princípio: acolher e respeitar as diferenças, independente do pertencimento racial, étnico ou religioso.
Segundo Claudia Vianna, professora da Faculdade de Educação da USP e líder do grupo de Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual (Edges), tratar a questão de gênero nas escolas parte do mesmo princípio: acolher e respeitar as diferenças, independente do pertencimento racial, étnico ou religioso.
A intenção não é ensinar como ser menino ou ser menina ou acabar com a família como uma instituição, mas abrigar todas as formas de ser menino ou menina ou diferentes modelos de organização familiar
Para a professora, é importante que o currículo escolar trabalhe a diversidade para além de datas comemorativas, como a questão da mulher no mês de março, a questão indígena no mês de abril e a racial em novembro.
“Em coerência com essa lógica de organização, as ciências, os mapas, as narrativas históricas e os textos literários reforçam no restante dos dias letivos, os valores ligados à identidade do homem, branco, heterossexual, cristão, classe-média, tomando-os como referência central e mantendo à margem as identidades da mulher, negra, homossexual, não-cristã, pobre”, explica.
“No ambiente escolar, também não podemos esquecer que o planejamento curricular ensina tanto em razão do que está representado nele, quanto em razão daquilo que está silenciado.”
Para ela, incluir o debate sobre gênero e diversidade sexual nas escolas poderia, então, contribuir para reduzir a violência escolar contra mulheres, e “ampliar o olhar dessas pessoas sobre a exclusão de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, englobando as dimensões de classe, raça, etnia e geração na perspectiva de um projeto democrático de educação de crianças e jovens, homens e mulheres capazes de acolher e construir uma sociedade mais justa”, conclui ela deixando claro a importância da tolerância.
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