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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Participação política das mulheres desafia igualdade de gênero.

Participação política das mulheres desafia igualdade de gênero.

O Brasil caiu nove posições em uma pesquisa mundial de igualdade de gênero. Segundo o levantamento divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), o país figura agora na 71ª colocação na lista global. Em 2013, ocupava a 62ª posição. A organização avaliou as diferenças entre homens e mulheres na saúde, educação, economia e indicadores políticos em 142 países. Entre os 10 primeiros figuram países nórdicos, o centro-americano Nicarágua e o africano Ruanda.

Por Marcela Belchior, na Adital



Mesmo com inclusão no mercado de trabalho, houve queda na igualdade salarial entre homens e mulheres.Mesmo com inclusão no mercado de trabalho, houve queda na igualdade salarial entre homens e mulheres.
Apesar de ter mantido índices de igualdade entre homens e mulheres nas áreas da saúde e educação, o Brasil perdeu posições nas estatísticas que medem a participação feminina na economia e na política. A maior queda ocorreu na avaliação que considera salários, participação e liderança feminina no mercado de trabalho. Nesse índice, a pontuação do Brasil caiu de 0,656 para 0,649 — quanto mais perto de 1, maior a igualdade entre os gêneros. A nota zero indica desigualdade total.

Segundo o levantamento, houve uma "ligeira queda na igualdade salarial e renda média estimada” para mulheres no Brasil. Apesar de estar em colocação pior, a nota individual do Brasil progrediu desde que o índice começou a ser divulgado. Em 2006, a nota do país era 0,604.

Outro critério que fez o Brasil perder posições no ranking foi o de "empoderamento” político das mulheres. O quesito contabiliza mulheres no Congresso Nacional, em posições ministeriais e na chefia de Estado. Nesse índice, o Brasil perdeu colocações em comparação com outros países, apesar de ter melhorado sua nota individual. A curva de participação feminina na política brasileira mostra ascensão desde a chegada de Dilma Rousseff à Presidência da República, em 2011. Ela foi a primeira mulher a governar o país.

Em entrevisa à Adital, a socióloga, historiadora e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rosana Schwartz, destaca que o Brasil desenvolve, hoje, uma série de políticas públicas que colaboram para a superação de questões de gênero. Porém, existem permanências de comportamento que seriam mais difíceis de serem desconstruídas.

"A mulher foi construída para o âmbito privado — ser mãe, ser dona de casa. Então, optam por não buscarem determinado tipo de emprego, que tenham de abrir mão da família”, exemplifica. "A própria mulher não quer, porque ela se sente com dupla ou tripla jornada de trabalho”, avalia Schwartz.

Outro ponto importante na construção desses resultados estaria na participação da mulher na política partidária e institucional. "Antes, elas entravam na política porque eram parentes de homens que já estavam historicamente na política. Hoje, diminuiu o número de mulheres, mas aumentou a qualidade”, aponta a professora. "Agora, as mulheres entram na política com interesses próprios. Têm maior necessidade de participarem das instâncias de poder”, explica.

Na área de educação, o Brasil atingiu a nota 1, o que significa que não há desigualdade entre homens e mulheres. A eliminação nas desigualdades na educação vem desde 2012. Na saúde, o país pontua 0,98 — o que o coloca em 1º lugar, empatado com outros países — desde o início da divulgação do ranking, em 2006. O relatório destaca que o Brasil conseguiu fechar 70% da lacuna entre os gêneros.

"A queda do Brasil em nove colocações, ficando em 71º, aconteceu mesmo tendo fechado com sucesso ambas as lacunas entre gêneros no nível educacional e de saúde, e de sobrevivência. A prioridade, agora, deve ser garantir retornos em seus investimentos através do aumento da participação feminina na área de trabalho”, aponta o relatório.

Igualdade em outros países

A Islândia ocupa o topo do ranking geral, seguida de outros países nórdicos: 1) Islândia, 2) Finlândia, 3) Noruega, 4) Suécia e 5) Dinamarca. Na sexta colocação, aparece a Nicarágua, o único país latino-americano entre os 10 primeiros, seguida por Ruanda (7º), na África, 8) Irlanda, 9) Filipinas e 10) Bélgica. A Nicarágua é o país mais bem colocado da América Latina há três anos. Logo depois, em 7º, aparece Ruanda, situada na África centro-oriental, que, segundo o relatório, possui "grande pontuação em termos de participação econômica e política”.

Nas eleições de 2012, por exemplo, as mulheres ocuparam de forma massiva o Parlamento nicaraguense, sendo eleitas para mais da metade das vagas. Além disso, ministérios e outros cargos fundamentais das instituições públicas do país passaram a ser dirigidos por elas. Um exempo é Aminta Granera, ex-guerrilheira sandinista e, hoje, chefe da Polícia Nacional.

Entre os países dos Brics, a África do Sul é a mais bem colocada (18º), "devido à forte participação política”. Depois do Brasil, aparecem Rússia (75º), China (87º) e Índia (114º). O documento do FEM destaca que os avanços em todo o mundo foram pequenos. A lacuna entre homens e mulheres ainda está em 60%. Em 2006, esse dado era de 56%.

De acordo com Rosana Schwartz, em ambos os países do Hemisfério Sul, Nicarágua e Ruanda, os resultados pouco têm relação com políticas públicas por parte do Estado. Ela explica que são nações em conflito, nos quais a população é submetida a contextos de reposicionamento dos papéis dos cidadãos. Nesse caso, a mulher começa a sair de casa para participar da vida púbica por necessidade e não por inclusão social promovida pos vias institucionais.

"O homem sai para conflitos bélicos, se afasta do mercado de trabalho e a mulher assume”, exemplifica. Segundo a professora, esse movimento ocorre desde os anos 1960 e demora muito tempo para apresentar novas configurações à sociedade. "A necessidade cria solidariedade, conscientização e espírito de luta. Se eu, como um sujeito social, tenho de mudar, vou desconstruindo isso no cotidiano”, explica Schwartz.

domingo, 26 de abril de 2015

Sogra muito mais amiga do que inimiga?


No dia 28 de abril é comemorado no Brasil o Dia da Sogra.
Por Rosana Schwartz

Sogra tornou-se um mito negativo, associada à imagem de pessoa inoportuna, que deve ser suportada pelo genro ou nora em algum momento de sua vida.
Será verdade isso? Ou é mais um preconceito que a sociedade contemporânea necessita desconstruir.
Vamos entender quais os motivos da construção dessa visão?
Bom para tanto vamos começar apresentando de onde vem à origem dessa imagem e sobre a data Dia da Sogra.

Sobre a data no Brasil, nada confirmado por documentos, mas dizem as lendas que a história começa em 1957,  quando um industrial inglês um tanto excêntrico tinha um pequeno zoológico em sua casa, e adepto às caçadas e safáris na África, resolveu que gostaria de ter uma sucuri em sua coleção, após conseguir seu exemplar que ele o chamou se “sogra” acredita-se que ele não entendia a pronúncia correta e assim ficou (ou algum funcionário resolver trolar com o chefe e contou errado).

O Governador Jânio Quadros organizou num domingo um grande café da manhã e estendeu o convite aos demais familiares e benfeitores do seu governo, quando disse ao industrial “pode levar sua esposa e sua sogra…”

O homem levou sim, a sua esposa e a sucuri, que foi responsável pelo desastre do café de Jânio, inclusive devorando sua cadela perdigueira de estimação, assim este dia acabou sendo conhecido como o Dia da Sogra, não se sabe o que aconteceu com o industrial após esse episódio, mas sabemos que o Dia da Sogra começou em 1958 após este Domingo desastroso.


Mas na realidade as dificuldades entre Genro e Sogra e Nora e Sogra são muito remotas. Levam-nos navegar no tempo e atracar nas formações das organizações familiares. Estas criaram relações parentais assimétricas – o parentesco consangüíneo, ligados por genes e o parentesco por aliança – consagrado pelo laço filial e laço conjugal.

A incorporação em uma unidade familiar de elementos de outras unidades familiares causou e ainda causa instabilidades, que posteriormente com o convívio são acomodadas. Os valores das duas famílias diferentes e comportamentos são paulatinamente incorporados uma na outra. Nesse processo existe o que chamamos de dimensão afetiva – estranhamento e aceitação do “outro” no espaço do “eu” e a resistência e flexibilização diante da dimensão eletiva, da escolha de um dos elementos da família em se relacionar ou casar com um elemento de outra família. Essas duas dimensões afetivas e eletivas são simbólicas e subjetivas.

A hierarquização de papéis é modificada. Sem se darem conta efetivamente nasce a disputa pelo comando da família, a matriarca aos poucos cede lugar para a nova integrante do grupo.
O dilema passa também pelo encontro de gerações diferentes, ou seja, posturas, entendimentos e olhares divergentes com relação à família – como criar os filhos, o que é prioridade para o casal, entre outras questões.


Parecem lógicas e óbvias as resistências e as aceitações, entretanto, simbolicamente são complexas e repletas de transformações e permanências comportamentais.

Ao problematizar a relação não podemos deixar de lado as questões de Gênero presentes nesses comportamentos – com relação às mulheres noras e sogras no passado passavam muito tempo juntas realizando as tarefas domésticas motivo pelo qual aumentavam as desavenças. Quando os casamentos eram arranjados, por interesses financeiros ou políticos, a noiva ainda muito jovem, passava dos cuidados realizados pela sua família para as mãos da matriarca da família do noivo, a sogra. Esta verificava as aptidões da nova integrante e concluiria a formação de boa esposa.   
As exigências eram muitas e se alguma falha ocorresse os comentários para o noivo/filho não eram poupadas.

A solidariedade é elemento fundamental para a reprodução social do grupo familiar e desconstrução das resistências – o auxílio mútuo - como o cuidado dos netos e financeiros são comprovadamente amenizadores dos estranhamentos.

Sabe-se que tudo passa com o tempo e essas relações conflituosas não são diferentes.


terça-feira, 21 de abril de 2015

Zygmunt Bauman: ​Para que serve a sociologia?

Zygmunt Bauman: ​Para que serve a sociologia?


Zygmunt Bauman
Zygmunt Bauman
O que é sociologia? Por que fazer sociologia? Como fazer? Qual o seu alcance? Essas quatro perguntas são respondidas por Zygmunt Bauman, em sua mais recente obra lançada no Brasil, Para que serve a sociologia?. Nesta série de conversas com Michael Hviid Jacobsen e Keith Tester, Bauman esclarece os princípios que regem seu próprio trabalho, sua vida e sua carreira. O sociólogo polonês reconhece as ideias que o influenciaram e explica como construiu um conjunto de conceitos para interpretar o mundo contemporâneo - como a ideia central de "liquidez" -, explicando o porquê de se afastar da corrente geral da sociologia, que caracteriza nossa época como "pós-moderna". Leia abaixo o trecho inicial do livro Para que serve a sociologia?, lançado pela Editora Zahar:
Michael Hviid Jacobsen e Keith Tester: Olhando em retrospecto sua trajetória sociológica, vê-se que seu trabalho foi inspirado inicialmente pela sociologia polonesa das décadas de 1950 e 1960, após o que seu ambiente sociológico próximo tem sido a sociologia britânica. Como você diria – em retrospecto – que essas diferentes fontes de inspiração – a sociologia polonesa e a britânica – influenciaram e moldaram seu pensamento?Zygmunt Bauman: “Olhando em retrospecto", como vocês me pediram, dificilmente poderia identificar um divisor de águas ou um violento choque entre “fontes de inspiração". Ao decolar da Polônia, eu já havia iniciado minhas viagens sociológicas, e pousar na Grã-Bretanha não provocou nenhuma mudança importante em meu itinerário. Separada por uma barreira linguística, a “sociologia polonesa" parecia um universo diferente, mas, por favor, tenham em mente que essa barreira era unilateral: o inglês era então a língua “oficial" no reino da sociologia, e os sociólogos poloneses liam os mesmos livros e seguiam os mesmos caprichos da moda e meandros de interesses que seus colegas do outro lado da Cortina de Ferro. Além disso, a sociologia britânica do início da década de 1970 não estava exatamente na linha de frente das tendências mundiais, e, para um recém-chegado da Universidade de Varsóvia, não havia muito com que se familiarizar; na verdade, as descobertas realizadas naquela época nas Ilhas Britânicas, em quase todos os aspectos, eram velhas e por vezes até antiquadas na área do Vístula.
A maior parte dos temas que, na minha presença, provocavam entusiasmo em meus colegas britânicos (tais como as descobertas de Gramsci, da Escola de Frankfurt, da “culturologia", da hermenêutica, da insignificância do “funcionalismo estrutural" e da magnitude do estruturalismo etc.) eu já havia examinado na companhia de meus colegas poloneses muito antes de aportar na Grã-Bretanha. Para resumir uma longa história, minha primeira década neste país pode ter sido cheia de som e fúria, por uma série de razões (e realmente o foi, como confessei a Keith Tester muito tempo atrás), mas isso significou muito pouco em termos de minha visão acerca da vocação sociológica.
MHJ e KT: Você sempre definiu a sociologia como um “diálogo com a experiência humana". Isso sugere duas questões. A primeira delas é: o que você quer dizer com “experiência humana"?ZB: Para mim isso significa tanto Erfahrungen [experiências] quanto Erlebnisse [vivências]: os dois diferentes fenômenos gerados na interface pessoa/mundo, que os alemães distinguem e separam, mas os falantes de outras línguas, por falta de termos distintos, fundem na noção de “experiência". Erfahrung é o que acontece comigo ao interagir com o mundo; Erlebnis é “o que eu vivencio" no curso desse encontro – o produto conjunto de minha percepção do(s) acontecimento(s) e meu esforço de absorvê-lo e torná-lo inteligível. Erfahrung pode almejar, e de fato almeja, o status de objetividade (supra ou interpersonalidade), enquanto Erlebnis é evidente, aberta e explicitamente subjetiva; e assim, com alguma simplificação, podemos traduzir esses conceitos como, respectivamente, aspectos objetivos e subjetivos da experiência; ou, acrescentando uma pitada de interpretação, a experiência elaborada e a experiência não elaborada pelo ator. A primeira pode ser apresentada como um relato proveniente do mundo externo ao ator. A segunda, como algo vindo “de dentro" do ator e concernente a pensamentos, impressões e emoções privados, só é disponível na forma de um relato feito por ele.
Nos relatos da primeira categoria, ouvimos falar de eventos interpessoalmente verificáveis chamados “fatos"; os conteúdos do segundo tipo de relatos não são interpessoalmente verificáveis – as crenças relatadas pelo ator são, por assim dizer, as definitivas (e únicas) “verdades". O status epistemológico de Erfahrungen e Erlebnisse difere, portanto, enormemente – circunstância responsável por muita confusão na prática da pesquisa sociológica e acima de tudo nas interpretações de suas descobertas. A confiabilidade e a relevância de evidências fornecidas por testemunhas mudam de acordo com o objeto do testemunho – e isso se aplica a ambos os parceiros no permanente “diálogo entre a sociologia e a experiência humana".
MHJ e KT: A segunda questão: em que consiste esse diálogo? De que modo a sociologia nele se envolve e o que faz valer a pena esse envolvimento? Por que ele deveria ser lido por não sociólogos?ZB: Como em todas as conversas, a sociologia se envolve no diálogo com a doxa laica – o senso comum ou o conhecimento do ator. Isso envolve transmitir mensagens que se transformam em estímulos, que evocam respostas, que, por sua vez, se transformam em estímulos – em princípio, ad infinitum. A transformação de mensagens em estímulos efetivos é mediada pela recepção, seguida pela compreensão, que envolve, como regra, uma interpretação (seletiva). Em sua variedade sociológica, o diálogo visa ao confronto entre Erfahrungen e Erlebnisse, “relativizando" assim esta última, ao mesmo tempo que busca ampliar, em vez de estreitar e limitar, o espectro de escolhas dos participantes do diálogo.
A meu ver, o objetivo crucial desse diálogo permanente é, a longo prazo, a ruptura do hábito generalizado, talvez mesmo quase universal, dos “não sociólogos" (também conhecidos como “pessoas comuns em suas vidas comuns") de fugir da categoria explanatória “a fim de", quando se trata de relatar sua conduta, empregando em vez disso um argumento do tipo “por causa de". Por trás desse hábito se encontra o pressuposto tácito, ocasionalmente articulado, porém sobretudo inconsciente e dificilmente questionado, de que “as coisas são como são" e “natureza é natureza – ponto final", assim como a convicção de que há pouco ou nada que os atores – sozinhos, em grupo ou coletivamente – possam mudar no que se refere aos veredictos da natureza.
O resultado disso é uma visão de mundo inerte, imune à argumentação. Ela acarreta uma mistura verdadeiramente mortal de duas crenças. Primeiro, a crença na inflexibilidade da ordem das coisas, da natureza humana ou da condição dos assuntos humanos. Segundo, a crença numa fraqueza humana beirando a impotência. Esse dueto de crenças estimula uma atitude que só pode ser descrita como uma “rendição antes de se travar a batalha". Étienne de la Boétie, admiravelmente, deu a essa atitude o nome de “servidão voluntária". Em Diário de um ano ruim, de J.M. Coetzee, o personagem C. discorda: “La Boétie está errado." E prossegue mostrando o que estava faltando naquela observação de quatro séculos atrás, e que, não obstante, está ganhando importância em nossos dias: “As alternativas não são a servidão complacente de um lado e a revolta contra ela de outro. Há uma terceira via, escolhida por milhares e milhões de pessoas todos os dias. É o caminho do quietismo, da obscuridade voluntária, da emigração interna." As pessoas seguem a correnteza, obedecendo às suas rotinas diárias e antecipadamente resignadas diante da impossibilidade de mudá-la, e acima de tudo convencidas da irrelevância e ineficácia de suas ações ou de sua recusa em agir.
Com o questionamento da visão de mundo que sustenta esse “quietismo", a variedade sociológica do diálogo voltado para a expansão da liberdade individual e o potencial coletivo da humanidade dedica-se à tarefa de revelar e decifrar as características do mundo que, embora possam ser decepcionantes e ambíguas, fornecem, não obstante, algumas bases para uma espécie de visão de mundo que sustenta e galvaniza continuamente as atitudes quietistas. A “relativização" visa a ambos os lados do encontro entre Erfahrungen e Erlebnisse: é a dialética de sua interação que poderia ser chamada de objetivo último do diálogo.
MHJ e KT: Você pode dar um exemplo disso?ZB: Permitam-me retornar por um momento ao alter ego de Coetzee; uma vez mais, ele acerta na mosca ao apontar que aquela popular e profundamente entranhada
imagem da atividade econômica como uma corrida ou competição de certo modo é vaga em suas especificidades, mas parece que, como corrida, ela não tem linha de chegada nem, portanto, um fim natural. O objetivo do corredor é chegar à frente e ali permanecer. A questão do motivo pelo qual a vida deve ser equiparada a uma corrida, ou por que as economias nacionais devem competir entre si em lugar de se exercitarem amigavelmente em conjunto, em nome da saúde, não é colocada. Uma corrida, uma competição: é assim que são as coisas. Por natureza, nós pertencemos a diferentes nações; por natureza, as nações competem com outras nações. Nós somos como a natureza nos fez.
Prossegue ele: mas de fato “nada há de inelutável no que se refere à guerra. Se queremos a guerra, podemos escolher a guerra, se queremos a paz, podemos igualmente escolher a paz. Se queremos a competição, podemos escolher a competição; alternativamente, podemos tomar o rumo da cooperação cordial".
Só para não deixar espaço a dúvidas quanto ao significado de sua observação, o C. de Coetzee assinala que
certamente Deus não fez o mercado – nem Deus nem o espírito da História. Se nós, seres humanos, o fizemos, não poderíamos desfazê-lo e refazê-lo de um modo mais benigno? Por que o mundo tem de ser um anfiteatro de gladiadores do tipo matar ou morrer em vez de, digamos, uma colmeia ou um formigueiro vigorosamente sinergético?
Ora, isso é, sugiro eu, um motivo determinante pelo qual, como pergunta você, “os não sociólogos deveriam ler sociologia".
MHJ e KT: Isso confere prontamente à sociologia um contorno político. Qual a relação da sociologia com a política?ZB: Inevitavelmente, por ação ou omissão, a sociologia está muito interligada à política. Numa sociedade como a nossa, dominada pelo conflito, com seus conflitos de interesse e suas políticas antagônicas, ela também tende com muita frequência a se tornar tendenciosa. Seu tema, afinal, é a interação de Erfahrungen e Erlebnisse; as Erlebnisse são endemicamente tendenciosas, e assim é a tarefa de decompor a ilusória “objetividade" das Erfahrungen.
O que torna a sociologia uma atividade intrinsecamente política é, além disso, o próprio fato de oferecer uma fonte e uma legitimação de autoridade distintas, ao contrário da política institucionalizada. Em nossa sociedade multivocal e multicentrada, essa não é, contudo, a única fonte de autoridade envolvida na competição com o establishment político – para não dizer sua única alternativa. Com a política controlada pelo Estado, dele originada e por ele autorizada cronicamente afligida pela praga da ineficácia causada por um perpétuo déficit de poder – após um longo período em que ela foi o foco de uma condensação e de uma monopolização genuínas ou almejadas –, a tendência hoje é um espectro de aspirações existenciais em permanente ampliação a se espalhar por todo o corpo social (relembremos o conceito de “política da vida", de Anthony Giddens, quando ela assume, ou é onerada com, um número sempre crescente de funções que costumavam ser abraçadas e ciumentamente protegidas pela política institucionalizada, centrada no Estado e/ou por ele orientada).
MHJ e KT: Seria a sociologia uma prática ética, e, em caso positivo, de que modo?ZB: Tal como no caso do “político", a sociologia não pode deixar de ser ética (“prática ética" é, em meu vocabulário, um pleonasmo; ética é prática – de articular, pregar, promover e/ou impor regras de conduta moral). A moral é uma questão de responsabilidade em relação ao Outro; e o mais poderoso argumento em favor de assumir essa responsabilidade é a dependência mútua dos seres humanos, a condição que a sociologia investiga, exibe e busca infatigavelmente fazer compreender. Uma lição que um leitor de tratados sociológicos não pode deixar de extrair é a relevância das ações e inações dos outros para sua própria condição e suas expectativas, assim como a relevância de suas próprias ações e inações para as condições e expectativas dos outros; afinal, a responsabilidade que recai sobre todos nós, conscientemente ou não, em relação às condições e expectativas de cada um.
No entanto, devemos deixar claro que essas responsabilidades, quer sejam ou não evidentes e inquestionáveis, podem ser (e na verdade são) tão frequentemente assumidas quanto ignoradas. O máximo que eu arriscaria dizer é que, enquanto executam seu trabalho profissional de maneira adequada, os sociólogos estão inevitavelmente, de forma consciente ou não, preparando o terreno em que a consciência moral pode crescer, e com ela as chances de as atitudes morais serem assumidas e de a responsabilidade pelos outros ser cada vez mais aceita. Isso, porém, é o máximo que podemos avançar. O caminho que leva a um mundo moral é longo, sinuoso e cheio de armadilhas – as quais, diga-se de passagem, é tarefa do sociólogo investigar e mapear.

O Dia das Mães: um pouco de história.


Costuma-se comemorar o Dia das Mães sem questionar os motivos da existência da data.  As múltiplas composições familiares sem procurar conhecer as origens procuram presentear a Mãe com flores, chocolates, roupas, almoços entre outros agrados.  
Entretanto, a verdadeira história da data nos remete ao século XIX, nos Estados Unidos quando uma mulher de nome  Ann Reeves Jarvis criou um local de trabalho, para as mulheres, tratarem das melhorias das condições sanitárias das cidades – esses locais ficaram conhecidos por Clubes das Mães. As doenças eram inúmeras nesses tempos e consequentemente a mortalidade infantil era assustadora. Esses Clubes atuavam em diversas frentes, como a higienização das cidades, cuidados com soldados feridos na Guerra Civil Americana.
O dia das ações desses Clubes foi denominado de Dia das Mães. Ann Jarvis organizava atividades como piqueniques nesse dia com o objetivo de encorajá-las e conseguir mais voluntárias para participar. Entrar para a política e promover a paz também faziam parte das propostas desses Clubes.  
No Brasil, Getúlio Vargas oficializa o dia das mães como um feriado no segundo domingo de maio em 1932. A filha de Anna com o falecimento de sua mãe, em 1905, resolve transformar a data em comemorativa à todas as mães, ou seja, para homenageá-las.
Dessa forma, esse dia deveria ser lembrado com carinho, amor e reflexão, e não com consumo de inúmeros produtos sem um sentido mais profundo. Vistas às mães, conversas e recordações deveriam ser mais importantes do que presentes..... os esforços desempenharam na formação dos filhos devem ser lembrados com amor.

Vamos pensar sobre........

terça-feira, 14 de abril de 2015

I SEMINÁRIO PROCESSOS EM REDE NA COMUNICAÇÃO TEMA: PROCESSOS EM REDE NA COMUNICAÇÃO, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

EVENTO CCL MACKENZIE/MACKPESQUISA

I SEMINÁRIO PROCESSOS EM REDE NA COMUNICAÇÃO

TEMA:PROCESSOS EM REDE NA COMUNICAÇÃO, DESAFIOS E PERSPECTIVAS


DIAS: 15 e 16 de abril de 2015
LOCAL: Salão Nobre do Centro Histórico e Cultural do Mackenzie, São Paulo S.P.
RuaItambé, 135 Higienópolis
Universidade Presbiteriana Mackenzie

Justificativa – Diante da perspectiva de novas discussões que emergiram após a construção do novo Projeto Pedagógico do Curso de comunicação, pelo Centro de Comunicação e Letras, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, os professores envolvidos no desenvolvimento do projeto, idealizaram este Seminário que tem como expectativa promover a necessária discussão sobre os novos eixos que envolvem linguagens, planejamento e criação apoiadas em redes temáticas e virtuais reunir as lideranças da área, apresentar a Instituição e suas perspectivas de trabalho. Com a realização de mesas temáticas, o Seminário espera receber cerca de 20 convidados dentre seus professores e público externo.

PROGRAMAÇÃO

15 de abril, 9 30 hs – Salão Nobre do Centro Histórico do Mackenzie

MANHÃ

Mesa institucional – Diretores do Mackenzie e convidados
Mesa de Trabalhos: Comunicação em Redes
Prof. Dr. Alexandre Huady, diretor do CCL, moderador
Convidados: Eneus Trindade, presidente da ABP2, Associação Brasileira dos Pesquisadores de Publicidade e Propaganda; Cláudia Lago, presidente da SBPJor, Sociedade Brasileira dos Pesquisadores de Jornalismo; Ana Silvia Lopes Médola, vice-presidente da INTERCOM, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

TARDE

14:30/16 Horas - Salão Nobre do Centro Histórico do Mackenzie

Painel: Perspectivas das disciplinas a serem ministradas no Programa de Pós Graduação em Comunicação
Linha 1: Processos de Comunicação e Redes Midiáticas na Cultura Urbana
 Professores Celso Figueiredo, Denise Paiero, José Mauricio Conrado Moreira da Silva, Gláucia Davino e Marcos Duarte


NOITE
19:00/21:00 horas – Salão Nobre do Centro Histórico do Mackenzie

Mesa de Trabalhos: Desafios para a comunicação através das redes sociais
Prof. Dr. José Maurício Conrado Moreira da Silva, moderador
Convidados:Eduardo Moretin, presidente da COMPÓS; RobertoGondo, presidente da POLITICOM; Helena Bonito, decana de pós graduação da UPM

16 de abril, 9 30 hs – Salão Nobre do Centro Histórico do Mackenzie
Mesa de trabalhos  Desafios para a organização científica na área de comunicação, perspectivas
Prof. Dr. Marcos Duarte, moderador
Margarida Kunsch, presidente da SOCICOM, Federação das Associações Científicas de Comunicação; Luiz Alberto de Farias, presidente da Abrapcorp, Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas; Adolpho Queiroz, representando a Rede ALCAR, Associação Brasileira dos Pesquisadores da História da Midia; Yuri Parente, representante da Rede Folkcom, Associação Nacional dos Pesquisadores de Comunicação e Folclore

14:30/16 Horas - Salão Nobre do Centro Histórico do Mackenzie

Painel 2: Perspectivas das disciplinas a serem ministradas no Programa de Pós Graduação em Comunicação
Linha 2:  Política, Sociedade e Cultura Midiática
 Professores Adolpho Queiroz, Roberto Gondo, Rosana Schwartz e Maria de Lourdes Bacha
16:30 Horas – Salão Nobre do Centro histórico do Mackenzie
Encerramento: Balanço do I Seminário e Perspectivas de Trabalho
Prof. Dr. José Maurício Conrado Moreira da Silva

Comitê científico: AlexandreHuady, Adolpho Queiroz, Celso Figueiredo, José Maurício Contrado Moreira da Silva, GlauciaDavino,Maria de Lourdes Bacha, Rosana Schwartz, DenisePaiero e RobertoGondo,Fred Utsonomia,PerrottiPasquali, Edson Capoano, Andre Santoro, Eneus Trindade/ECA-USP; Tania Hoff, ESPM; Clotilde Peres,ECA/USP; Cecilia Peruzzo, UMESP; Maria Berenice da Costa Machado, UFRS; Marialva Barbosa, UFRJ.



Comissão Organizadora: Presidente Adolpho Queiroz, Glaucia Davino,Fernanda Nardy, Isabel Orestes, Osvaldo Hattori, José Mauricio Conrado Moreira da Silva.




quinta-feira, 9 de abril de 2015

GAME E EDUCAÇÃO

https://www.youtube.com/channel/UC3NfdPWc0qkHw2SZQop7fyQ
https://www.facebook.com/GamesGBS/timeline

Entre no site e assistam os vídeos.
Os roteiros dos Games como fontes históricas, educacionais, literários e fílmicos
Rosana Schwartz
Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 Este texto problematiza as múltiplas possibilidades de utilização dos games em diversos campos do conhecimento–letras, história, geografia, política, semiótica, artes entre outras – argumenta sobreos desbobramentos dos jogos em livros, fílmes, vídeos e fóruns de discussão em redes sociais e principalmente apresenta e questiona as formas de apredizados que proporciona quando utilizado para a educação. Elegeu-se para exemplificar, os games Assassin's CreedI e II compostos por uma série de jogos eletrônicos criados por Patrice Desilets,ambientalizadoinicialmente no ano de 2012, no qual o personagem pricipal, por meio do ato de rememorar a história vivida de seus ancestrais,revive alguns períodos da história, como a Idade Média, em específico na época da Terceira Cruzada na Terra Santa, a Renascença , Revolução Francesa e a Revolução Americana.Não é recente a utilização dos meios de comunicação – fotografias, literatura, revistas, jornais, cinema - como fonte histórica e sua utilização na educação, não obstante, as fontes de entretendimento games, marcadas pelo próprio presente na vida cotidiana de milhares de sujeitos sociais, ainda comporta significativo corolário de interrogações, inquietudes e incertezas por parte dos educadores. Diante disso, este trabalho apresenta aos educadores de múltiplas áreas do conhecimento, alguns resultados da aplicação dessa ferramenta em sala de aula e por meio de entrevistas com jovens e professores as impressões sobre sua eficácia e utilização conjunta dos seus desdobramentes em romaces e filmes dentro e fora da sala de aula.


Palavras- chave-  -  Fontes Históricas Games, Educação

domingo, 5 de abril de 2015

Sobre a Redução da Maioridade Penal.

Sobre a redução da maioridade penal.

Reduzir a maioridade penal não reduz a violência - Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência.
No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade. Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida dos EUA. O país, que assinou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aplicou em seus adolescentes, penas previstas para os adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.
Sabemos que os jovens infratores são a minoria, no entanto, é pensando neles que surgem as propostas de redução da idade penal. Cabe lembrar que a exceção nunca pode pautar a definição da política criminal e muito menos a adoção de leis, que devem ser universais e valer para todos. Até junho de 2011, o Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL), do Conselho Nacional de Justiça, registrou ocorrências de mais de 90 mil adolescentes. Desses, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora seja considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil, que conta com 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.
As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com a adoção de leis penais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.
A constituição brasileira assegura nos artigos 5º e 6º direitos fundamentais como educação, saúde, moradia, etc. Com muitos desses direitos negados, a probabilidade  do envolvimento com o crime aumenta, sobretudo entre os jovens. O adolescente marginalizado não surge ao acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social que gera e agrava a pobreza em que sobrevive grande parte da população. A marginalidade torna-se uma prática moldada pelas condições sociais e históricas em que os homens vivem. O adolescente em conflito com a lei é considerado um ‘sintoma’ social, utilizado como uma forma de eximir a responsabilidade que a sociedade tem nessa construção.
Reduzir a maioridade é transferir o problema. Para o Estado é mais fácil prender do que educar.

A educação é fundamental para qualquer indivíduo se tornar um cidadão, mas é realidade que no Brasil muitos jovens pobres são excluídos deste processo. Puni-los com o encarceramento é tirar a chance de se tornarem cidadãos conscientes de direitos e deveres, é assumir a própria incompetência do Estado em lhes assegurar esse direito básico que é a educação.
As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com adoção de leis penais mais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.
Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para a construção de uma sociedade melhor. E não como os vilões que estão colocando toda uma nação em risco.
Reduzir a maioridade penal isenta o estado do compromisso com a juventude - O Brasil não aplicou as políticas publicas necessárias para garantir às crianças, aos adolescentes e jovens o pleno exercício de seus direitos e isso ajudou em muito a aumentar os índices de criminalidade da juventude.
O que estamos vendo é uma mudança de um tipo de Estado que deveria garantir direitos para um tipo de Estado Penal que administra a panela de pressão de uma sociedade tão desigual.

Deve-se mencionar ainda a ineficiência do Estado para emplacar programas de prevenção da criminalidade e de assistência social eficazes, junto às comunidades mais pobres, além da deficiência generalizada em nosso sistema educacional.