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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O que é ideologia de gênero.

Por: Roseane Aguirra
A expressão “ideologia de gênero” foi muita citada durante o período eleitoral e também no discurso de posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, no dia 1º de janeiro de 2019, quando disse que iria combatê-la em seu governo.
Notícias falsas que circularam no período deixaram muita gente confusa quanto à definição do termo e o perigo que poderia oferecer às crianças.
Mas o que é ideologia de gênero?
Para Rosana Schwartz, historiadora e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, o termo não existe. “Gênero é uma categoria de análise da história. Não existe ideologia de gênero. O que existe é um método que foi criado nos anos 1980 para que você estude a história pela perspectiva da mulher e das categorias minorizadas,” explica Rosana, ao se referir aos grupos que foram pouco considerados na história tradicional, como trabalhadores do campo, homossexuais, mulheres e negros.
“Antes, alguns sujeitos entravam para a história,por que eram considerados heróis, mitos. O que era importante mesmo, não aparecia. Por exemplo, a ação das mulheres na vida cotidiana, nas guerras, nas lutas por direitos civis, sociais e pelas igualdades salariais entre homens e mulheres”, explica.
Gênero, como uma categoria de análise, pode trazer questões sobre o feminino, o masculino e as múltiplas sexualidades. Nós podemos estudar qualquer fato por esses vieses.
Igualdade acima de tudo
Segundo a historiadora, o estudo do gênero busca por igualdade, correções de assimetrias e a tolerância. “Estudar gênero é respeitar o outro como ele é, é ter tolerância, reconhecer a diversidade, as diferenças. É agir no sentido da desconstrução dos preconceitos. Os preconceitos e estereótipos são construídos historicamente. Então, com as discussões e debates se consegue caminhar no sentido de desconstruí-lo.”
A partir dessa perspectiva, segunda ela, é possível discutir a violência, o sexismo, a desqualificação dos indivíduos desde os discursos médicos e higienistas do seculo XIX, as questões étnicos-raciais.
“Não tem ligação direta com questões políticas e ideológicas que os conservadores estão falando no Brasil. É um desconhecimento teórico muito grande das pessoas que realizam essa fala. Os estudos de gênero proporcionam oportunidades para as pessoas minorizadas entrarem para a história, elas acabam aparecendo nos mais diversos estudos acadêmicos, nas mídias.
Então, é lógico que alguns setores da sociedade acabam não gostando,” afirma.
E nas escolas?
Segundo Claudia Vianna, professora da Faculdade de Educação da USP e líder do grupo de Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual (Edges), tratar a questão de gênero nas escolas parte do mesmo princípio: acolher e respeitar as diferenças, independente do pertencimento racial, étnico ou religioso.
A intenção não é ensinar como ser menino ou ser menina ou acabar com a família como uma instituição, mas abrigar todas as formas de ser menino ou menina ou diferentes modelos de organização familiar
Para a professora, é importante que o currículo escolar trabalhe a diversidade para além de datas comemorativas, como a questão da mulher no mês de março, a questão indígena no mês de abril e a racial em novembro.
“Em coerência com essa lógica de organização, as ciências, os mapas, as narrativas históricas e os textos literários reforçam no restante dos dias letivos, os valores ligados à identidade do homem, branco, heterossexual, cristão, classe-média, tomando-os como referência central e mantendo à margem as identidades da mulher, negra, homossexual, não-cristã, pobre”, explica.
“No ambiente escolar, também não podemos esquecer que o planejamento curricular ensina tanto em razão do que está representado nele, quanto em razão daquilo que está silenciado.”
Para ela, incluir o debate sobre gênero e diversidade sexual nas escolas poderia, então, contribuir para reduzir a violência escolar contra mulheres, e “ampliar o olhar dessas pessoas sobre a exclusão de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, englobando as dimensões de classe, raça, etnia e geração na perspectiva de um projeto democrático de educação de crianças e jovens, homens e mulheres capazes de acolher e construir uma sociedade mais justa”, conclui ela deixando claro a importância da tolerância.

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