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domingo, 26 de abril de 2015

Sogra muito mais amiga do que inimiga?


No dia 28 de abril é comemorado no Brasil o Dia da Sogra.
Por Rosana Schwartz

Sogra tornou-se um mito negativo, associada à imagem de pessoa inoportuna, que deve ser suportada pelo genro ou nora em algum momento de sua vida.
Será verdade isso? Ou é mais um preconceito que a sociedade contemporânea necessita desconstruir.
Vamos entender quais os motivos da construção dessa visão?
Bom para tanto vamos começar apresentando de onde vem à origem dessa imagem e sobre a data Dia da Sogra.

Sobre a data no Brasil, nada confirmado por documentos, mas dizem as lendas que a história começa em 1957,  quando um industrial inglês um tanto excêntrico tinha um pequeno zoológico em sua casa, e adepto às caçadas e safáris na África, resolveu que gostaria de ter uma sucuri em sua coleção, após conseguir seu exemplar que ele o chamou se “sogra” acredita-se que ele não entendia a pronúncia correta e assim ficou (ou algum funcionário resolver trolar com o chefe e contou errado).

O Governador Jânio Quadros organizou num domingo um grande café da manhã e estendeu o convite aos demais familiares e benfeitores do seu governo, quando disse ao industrial “pode levar sua esposa e sua sogra…”

O homem levou sim, a sua esposa e a sucuri, que foi responsável pelo desastre do café de Jânio, inclusive devorando sua cadela perdigueira de estimação, assim este dia acabou sendo conhecido como o Dia da Sogra, não se sabe o que aconteceu com o industrial após esse episódio, mas sabemos que o Dia da Sogra começou em 1958 após este Domingo desastroso.


Mas na realidade as dificuldades entre Genro e Sogra e Nora e Sogra são muito remotas. Levam-nos navegar no tempo e atracar nas formações das organizações familiares. Estas criaram relações parentais assimétricas – o parentesco consangüíneo, ligados por genes e o parentesco por aliança – consagrado pelo laço filial e laço conjugal.

A incorporação em uma unidade familiar de elementos de outras unidades familiares causou e ainda causa instabilidades, que posteriormente com o convívio são acomodadas. Os valores das duas famílias diferentes e comportamentos são paulatinamente incorporados uma na outra. Nesse processo existe o que chamamos de dimensão afetiva – estranhamento e aceitação do “outro” no espaço do “eu” e a resistência e flexibilização diante da dimensão eletiva, da escolha de um dos elementos da família em se relacionar ou casar com um elemento de outra família. Essas duas dimensões afetivas e eletivas são simbólicas e subjetivas.

A hierarquização de papéis é modificada. Sem se darem conta efetivamente nasce a disputa pelo comando da família, a matriarca aos poucos cede lugar para a nova integrante do grupo.
O dilema passa também pelo encontro de gerações diferentes, ou seja, posturas, entendimentos e olhares divergentes com relação à família – como criar os filhos, o que é prioridade para o casal, entre outras questões.


Parecem lógicas e óbvias as resistências e as aceitações, entretanto, simbolicamente são complexas e repletas de transformações e permanências comportamentais.

Ao problematizar a relação não podemos deixar de lado as questões de Gênero presentes nesses comportamentos – com relação às mulheres noras e sogras no passado passavam muito tempo juntas realizando as tarefas domésticas motivo pelo qual aumentavam as desavenças. Quando os casamentos eram arranjados, por interesses financeiros ou políticos, a noiva ainda muito jovem, passava dos cuidados realizados pela sua família para as mãos da matriarca da família do noivo, a sogra. Esta verificava as aptidões da nova integrante e concluiria a formação de boa esposa.   
As exigências eram muitas e se alguma falha ocorresse os comentários para o noivo/filho não eram poupadas.

A solidariedade é elemento fundamental para a reprodução social do grupo familiar e desconstrução das resistências – o auxílio mútuo - como o cuidado dos netos e financeiros são comprovadamente amenizadores dos estranhamentos.

Sabe-se que tudo passa com o tempo e essas relações conflituosas não são diferentes.


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