No dia 28 de abril é comemorado no Brasil o Dia da Sogra.
Por Rosana Schwartz
Sogra tornou-se um mito negativo, associada à
imagem de pessoa inoportuna, que deve ser suportada pelo genro ou nora em algum
momento de sua vida.
Será verdade isso? Ou é mais um preconceito que a
sociedade contemporânea necessita desconstruir.
Vamos entender quais os motivos da construção
dessa visão?
Bom para tanto vamos começar apresentando de onde vem à origem
dessa imagem e sobre a data Dia da Sogra.
Sobre a data no Brasil, nada confirmado por documentos, mas dizem as
lendas que a história começa em 1957, quando um industrial inglês um
tanto excêntrico tinha um pequeno zoológico em sua casa, e adepto às caçadas e
safáris na África, resolveu que gostaria de ter uma sucuri em sua coleção, após
conseguir seu exemplar que ele o chamou se “sogra” acredita-se que ele não
entendia a pronúncia correta e assim ficou (ou algum funcionário resolver
trolar com o chefe e contou errado).
O Governador Jânio Quadros organizou num domingo um grande café da manhã
e estendeu o convite aos demais familiares e benfeitores do seu governo, quando
disse ao industrial “pode levar sua esposa e sua sogra…”
O homem levou sim, a sua esposa e a sucuri, que foi responsável pelo
desastre do café de Jânio, inclusive devorando sua cadela perdigueira de
estimação, assim este dia acabou sendo conhecido como o Dia da Sogra, não
se sabe o que aconteceu com o industrial após esse episódio, mas sabemos que o
Dia da Sogra começou em 1958 após este Domingo desastroso.
Mas na realidade as dificuldades entre Genro e Sogra e Nora e Sogra são
muito remotas. Levam-nos navegar no tempo e atracar nas formações das organizações
familiares. Estas criaram relações parentais assimétricas – o parentesco
consangüíneo, ligados por genes e o parentesco por aliança – consagrado pelo laço
filial e laço conjugal.
A incorporação em uma unidade familiar de elementos de outras unidades
familiares causou e ainda causa instabilidades, que posteriormente com o
convívio são acomodadas. Os valores das duas famílias diferentes e
comportamentos são paulatinamente incorporados uma na outra. Nesse processo
existe o que chamamos de dimensão afetiva – estranhamento e aceitação do
“outro” no espaço do “eu” e a resistência e flexibilização diante da dimensão
eletiva, da escolha de um dos elementos da família em se relacionar ou casar
com um elemento de outra família. Essas duas dimensões afetivas e eletivas são
simbólicas e subjetivas.
A hierarquização de papéis é modificada. Sem se darem conta efetivamente
nasce a disputa pelo comando da família, a matriarca aos poucos cede lugar para
a nova integrante do grupo.
O dilema passa também pelo encontro de gerações diferentes, ou seja,
posturas, entendimentos e olhares divergentes com relação à família – como
criar os filhos, o que é prioridade para o casal, entre outras questões.
Parecem lógicas e óbvias as resistências e as aceitações, entretanto,
simbolicamente são complexas e repletas de transformações e permanências
comportamentais.
Ao problematizar a relação não podemos deixar de lado as questões de
Gênero presentes nesses comportamentos – com relação às mulheres noras e sogras
no passado passavam muito tempo juntas realizando as tarefas domésticas motivo
pelo qual aumentavam as desavenças. Quando os casamentos eram arranjados, por
interesses financeiros ou políticos, a noiva ainda muito jovem, passava dos
cuidados realizados pela sua família para as mãos da matriarca da família do
noivo, a sogra. Esta verificava as aptidões da nova integrante e concluiria a
formação de boa esposa.
As exigências eram muitas e se alguma falha ocorresse os comentários
para o noivo/filho não eram poupadas.
A solidariedade é elemento fundamental para a reprodução social do grupo
familiar e desconstrução das resistências – o auxílio mútuo - como o cuidado
dos netos e financeiros são comprovadamente amenizadores dos estranhamentos.
Sabe-se que tudo passa com o tempo e essas relações conflituosas não são
diferentes.
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