Parabéns São Paulo.
Por Rosana Schwartz
Comemora-se o aniversário de São Paulo, local de múltiplas temporalidades, na qual a noção e
sensação de tempo passam por diversas temporalidades, ou seja, a cidade
apresenta ritmos diferentes em seus espaços. Essa temporalidade cria a idéia de
constante transformação, mudança, onde tudo pode ser inserido no processo de
construção de uma cidade que nunca para e que mais cresce. Sua estrutura
desvela aspectos da construção simbólica e imaginária de cidade moderna/nova
entrelaçada com a dialética do arcaico/velho, ou seja, as permanências das
raízes rurais, advindas dos fazendeiros de café e do caipira/camponês
misturaram-se com o imaginário social de modernidade trazido pelos imigrantes
europeus no século XIX. O homem civilizado e o sentimento de progresso penetram
nas entranhas da cidade. Para entender São
Paulo de hoje, como qualquer outro lugar, faz-se necessário percorrer sua
construção histórica e o século XIX torna-se ponto chave. Cidade em crescente
ascensão, na qual se deu uma industrialização rápida, graças aos capitais liberados
pelo café, presença de uma elite esclarecida cosmopolita e progressista que
deseja forjar em seu território uma consciência Moderna na busca de uma
identidade Nacional. Com o processo de imigração em seus diversos fluxos de
entrada na cidade, sua configuração espacial e social foi sendo alterada
rapidamente diversas vezes. São Paulo do século XIX e XX reaparece sob o signo
da industrialização positiva, sinônimo de progresso, num clima de euforia e de
pseudo “confraternização”, local que recebe todas as etnias, indivíduos de
todas as culturas.O cosmopolitismo urbano na cidade de São Paulo gera o Mito do urbano da Metrópole, uma
metrópole que compete com as outras e busca a constantemente a sua identidade. Essa
cidade é a do homem disciplinado, espelho das grandes metrópoles européias e
americanas do século XIX, do futuro e da oposição ao mundo velho. A representação
do NOVO ocorre através da construção do MITO do heróico, de criação da idéia de
uma nova “RAÇA”, onde houve o cruzamento das etnias indígenas, européia
portuguesa e dos outros imigrantes, com o africano. A industrialização que vai
parecer como uma característica inerente ao paulista é completada pelo mito do BANDEIRANTE, com seu passado glorioso,
desbravador, onde as fronteiras do país foram conquistadas por ele. Assim,
forjando a idéia de que o Brasil é o que é, por causa desse homem, por causa
das entradas e Bandeiras, delimitando as fronteiras. Sempre se modernizando,
crescendo, valoriza as práticas e ações dinâmicas como as ações dos jovens. Seus
jovens, mulheres e homens marcaram história, unidos aos operários na Greve
Geral de 1917, em 1932 na Revolução Constitucionalista contra Getúlio Vargas e
em diversos outros momentos. Conservadora e revolucionária, a cidade se
constrói e se reconstrói. Apaga e cria memórias. Suas extensões territoriais,
seus bairros cresceram acompanhando a especulação imobiliária e a expansão das
linhas do trem. Entre locais povoados e vazios urbanos se desenvolveu de forma
irregular e sem controle. Desde o inicio
do século XX, Planos e Projetos Urbanísticos audaciosos não conseguiram
acompanharam seu ritmo. Antagônica e dialética é composta por uma cidade
oculta, invisível, da periferia, abandonada a própria sorte e outra visível
rica, com infraestrura dos bairros nobres. Bela e acolhedora convive ao mesmo
tempo com suas raízes frias e perversas.
São Paulo os
seus 462 anos carecem de entendimento e é impossível não te amar.
Viva São
Paulo!
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